Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Michelle Bolsonaro xingou Bruna Marquezine: o que é vulgaridade em 2022?
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Bruna Marquezine é uma estrela internacional e protagoniza o filme Besouro Azul, da franquia de heróis DC, gravado em Hollywood. Agora, como já acontecia no Brasil, ela chama a atenção por onde passa também no exterior. A atriz foi a um desfile da grife Burberry na noite de segunda (26), em Londres, com um vestido feito por Riccardo Tisci que, além de transparente, tinha recortes nos braços e nos quadris. Seguramente a ideia não era passar despercebida mesmo.
Funcionou. Todos os holofotes realmente se voltaram para a atriz e comentou-se nos bastidores que o cantor Kanye West parece ter falado com ela sobre o vestido. A ideia de celebridades fashionistas em eventos de moda é justamente essa: causar. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, embora ocupada com tentativa de reeleição do marido, arrumou tempo para criticar a roupa de Bruna. Em um comentário no Instagram, ela afirmou que "a pessoa gostar de ser feia e vulgar (SIC)".
"Feia"é uma palavra usada para designar aquilo que não é bonito. É um adjetivo geralmente usado para expressar opinião sobre as características físicas de alguém. É de direito de qualquer pessoa achar outra pessoa feia. Porém, classificar Bruna Marquezine assim exige uma certa elasticidade do bom gosto. Tem mais: a gente pode usar o adjetivo também para condenar atitudes que não são lá muito corretas. Por exemplo, "é feio criticar a aparência dos outros". Geralmente, usamos com crianças pequenas para ensinar valores importantes, o que costumava funcionar melhor antes de surgirem as redes sociais. Agora, até os adultos perderam essa referência de boa educação e acham natural deixar esse tipo de opinião por escrito. Bonito, não é.
O que é vulgar?
O adjetivo "vulgar" tem outro peso. Há várias definições para a palavra nos dicionários. Uma delas é "relativo ou pertencente à plebe, ao vulgo; popular". Definitivamente dá para dizer isso de Bruna Marquezine, atriz famosa desde os quatro anos de idade. Ela pode ser considerada "pertencente à plebe", dada sua popularidade desde sempre.
A segunda definição é mais completa de encaixar no look ostentado por Bruna no desfile: "que não foge à ordem normal, não se destaca; banal, comum, corriqueiro, ordinário, usual". Poxa, a gente pode dizer muita coisa daquele vestido, mas "não se destacar" certamente não é uma de suas características.
Há mais uma explicação para a palavra e possivelmente essa foi a intenção da primeira dama ao usá-la: "que revela ser de qualidade inferior; baixo, grosseiro". Um vestido da Burberry usado em um evento de altíssimo luxo pode ser grosseiro? Grosseiro é falar de ereção em público, né?
E mesmo que a intenção ao usar a palavra tenha sido o uso popular da expressão — e, segundo os dicionários, equivocado — de criticar a mulher que expõe o corpo... que direito a gente tem de fazer isso? A peça transparente de Bruna exibia a lingerie, como tantas modelos, atrizes e cantoras fazem em eventos de gala. "Vestida para causar" seria uma denominação mais justa.
Julgar a ousadia de outra mulher como desnecessária diz respeito à nossa própria régua. Como eu digo o que a outra pode ou não pode fazer? A subjetividade da própria opinião não deveria virar um juízo de valor sobre o que o outro faz. Onde é que está escrito que não pode? A qualidade dos looks de um evento de moda é medida justamente pelo burburinho que causam — com base nesse parâmetro, a gente pode dizer que Bruna Marquezine acertou demais, e isso não quer dizer que todo mundo usaria o mesmo look, ou par de brincos.
Vulgar, no sentido de grosseiro, é uma expressão que caiu em desuso quando falamos sobre o jeito de se vestir das mulheres. A primeira-dama tem um estilo conservador, delicado, fino. A atriz brasileira que está estourando lá fora se veste de uma maneira mais ousada, como bem entender. Nenhuma das duas está errada: elas podem se vestir como quiserem. Agora, se tiverem pago por looks que custam milhões em dinheiro vivo, a conversa fica esquisita.
Há atitudes mais vulgares ou grosseiras que exibir um biquíni à noite por baixo de um vestido transparente, como rir dos mortos pela Covid ou insistir em fechar os olhos para a fome dos brasileiros. Aí é o caso de dizer que há quem goste de se comportar de uma maneira, digamos, feia.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.