Topo

Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como em briga de Leonardo e filho, sua família vai sobreviver às eleições?

João Guilherme criticou o pai hoje no Twitter: famílias divergem quando o assunto é eleição - Clayton Felizardo/Brazil News
João Guilherme criticou o pai hoje no Twitter: famílias divergem quando o assunto é eleição Imagem: Clayton Felizardo/Brazil News

Colunista do UOL

18/10/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Tem duas soluções para os encontros familiares daqui para o final do mês. A primeira é dizer a clássica frase: "Aqui a gente não fala de política" e emendar com "passa o macarrão", "essa Coca tá com gás?" e outras colocações inofensivas que não fazem com que coloquemos em xeque relações de mais de duas décadas. A segunda é não segurar o tchan é emplacar assuntos polêmicos como "E no dia 30, hein? É 13 ou 22?". A garantia de quebra-pau é quase certa.

O assunto ficou claro na segunda (17). Primeiro, Leonardo, o cantor, declarou seu apoio a Bolsonaro em Brasília. No evento com o presidente, ele falou da importância das igrejas e da religião e sugeriu que a campanha de Lula, a quem chamou de outro lado, pretende fechar igrejas se eleito. A informação é falsa e já foi desmentida, mas se tem uma coisa que cresce sem se importar com fonte confiável é fake news no grupo de zap da família.

Depois do evento, João Guilherme, ator, ídolo teen e filho de Leonardo, de 20 anos, afirmou que o pai está no time errado. "Ver alguém tão importante para mim declarar apoio dessa forma me enoja", ele disse. Questionou também as mortes na pandemia. Se disse triste. O Brasil entende.

Mas como é que vai ficar o almoço de domingo com todo mundo tão triste com a polarização? A situação extrema das fake news acaba impedindo o debate. Qualquer coisa que qualquer um diga que for contrário "ao outro lado" é tida como mentira. E quando entram as agências de checagem e o jornalismo sério para dizer o que é de fato mentira, a narrativa é dizer que são esses órgãos ou empresas, feitos para dizer a verdade, que mentem. Como continuar a conversa assim?

Estávamos há dois anos presos em casa, vendo parentes e conhecidos morrerem por conta de uma doença que parece ter ficado no esquecimento. Dá para entender que João Guilherme fique chateado com o pai. Abraçado com o presidente que agiu com deboche naquele período em que tudo estava tão difícil, Leonardo parece estar debochando junto?

E dá para entender o cantor também: como alguém que recebe fake news o dia todo e não tem o costume de checar o que lê vai acreditar em qualquer coisa que seja diferente disso?

A gente pode optar por não discutir mais política com a família — era assim no saudoso 2013, antes de o gigante acordar, lembra? Mas a coisa virou de tal forma, que domingo, às 12h30, quando você se der conta, pode estar tentando convencer alguém de que o racismo existe, de que tem gente no Brasil que realmente passa fome, ou que o MST não vai invadir um apartamento de 60 metros quadrados e se apossar do quarto das crianças colocando uma família toda para dormir lá.

A situação de Leonardos e seus filhos parece longe de ter uma saída. Ninguém vai convencer o outro de que está certo.

Paralelamente a isso, me parece mais sortudo Raí, jogador que defendeu a liberdade democrática no evento Bola de Ouro também nessa segunda. Ele diz que fica do lado em que seu irmão, o jogador Sócrates, ficaria caso estivesse vivo. O meia que morreu em 2011 participou ativamente de um movimento chamado Democracia Corinthiana nos anos 80, que defendia a liberdade dos jogadores dentro do clube. Mais tarde, alguns desses jogadores brigaram também por eleições diretas no Brasil. No almoço de família, a conversa entre eles parecia ser harmônica — pelo menos nesse sentido.

Lógico que respeitar a opinião do outro é parte do que chamamos de democracia. Mas para que haja respeito mesmo a todos, é preciso ter democracia de verdade.

Você pode discordar de mim no Instagram.