Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que julgamos mágoa de Shakira e ninguém fala de reação irônica de Piqué
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A imagem da varanda da mansão onde mora Shakira com uma bruxa pendurada, apontando para a casa da sogra, me incomodou. Pensei nas crianças aprendendo com a mãe que a avó é uma bruxa. A cena me levou de volta para a música de Shakira, assunto de 10 entre 10 rodas de conversas no mundo todo essa semana: o que será que os dois meninos, de 9 e 7 anos, estariam achando sobre os pais trocando grossas farpas em pleno showbizz? Isso sem contar com as farpas trocadas internamente, em casa, desde que a cantora supostamente pegou um pote de geleia de morango pela metade e descobriu que o marido a traía.
Quando uma questão privada vira o assunto mais falado no mundo, nada ajuda as crianças a digerirem o divórcio dos pais. Escrevi sobre isso aqui. No mesmo texto, afirmei que também não dá para dizer que Shakira está errada de reagir como reagiu. Depois disso, recebi mensagens de muitas leitoras falando sobre como meu texto colocava sobre Shakira a responsabilidade de manter a sanidade das crianças. Coisa que, claramente, o pai dos meninos não pensou quando colocou a amante para dentro de casa, a deixou comer geleia e cometeu outros diversos abusos que culminaram em um divórcio público, de cifras gigantes.
Falar sobre isso num hit pop é de fato o de menos. "O maior risco é que os filhos descubram que a mãe não é de plástico e também tem sentimentos", me disse uma leitora. A jornalista Tábata Pitol sintetizou: "Poupar os filhos homens de saber como esses comportamentos do pai machucam a mãe ajuda a criar homens que vão repetir os mesmos comportamentos sem saber exatamente como estão sendo cruéis". Touché.
A assessora de imprensa Gabriela Toledo completou: "Criticar a música só aumenta a culpa materna, inclusive por fazer mal ao filho. Como se a mulher ainda fosse responsável por manter a sanidade e controle para poupar a família da exposição depois de ser traída", ela disse. Tem toda razão.
Talvez essa coisa de proteger criança seja utópica demais. Todo mundo sai ferido de um divórcio. Shakira tem suas armas — o primeiro lugar das paradas mundiais — para exorcizar o que viveu. Tem gente que se acaba de beber. Tem quem se feche, como uma ostra, e não fale nem com os filhos sobre o assunto. As crianças sentem o que houve seja qual for a reação.
Talvez uma mãe que chega em casa plena, depois de botar o mundo inteiro para rebolar e refletir sobre o quanto um cara gato pode ser nocivo, seja melhor para os filhos do que aquela que poupa as crianças da verdade.
Não há defesa para quem trai e debocha
Se toda essa discussão caiu em cima de Shakira desde que ela botou a sogra, a amante e o ex na berlinda com as batidas de um DJ renomado por trás, Piqué saiu livre dessa. Fechou contrato com a Cassio e empunha um relógio da marca dizendo que dura a vida toda. Chegou em um evento de Twingo, um carro que custa centenas de vezes menos que os carros que costumam ser usados por jogadores de futebol com projeção mundial. Tentou debochar, ficou pequeno. Não foi, entretanto, criticado como merecia.
Uma coisa é errar, trair, se apaixonar, fazer tudo errado, magoar quem te ama, desfazer um casamento. Outra é tentar tirar proveito disso, como um garoto de 13 anos que, perante os amigos na escola, admite orgulhoso que beijou mesmo outra garota na festa enquanto a namoradinha chora num canto do pátio. Infantil. Para não dizer meio ridículo. Ops, eu disse.
Enquanto muita gente (eu inclusa) tentou fazer com que a mãe fosse a única preocupada com a sanidade dos filhos, o pai ria de tudo isso se eximindo da culpa de ter começado a confusão. Afinal, só estamos falando disso porque ele trocou a mulher por outra (sendo que Shakira de fato vale por duas de 22, como diz a letra da música).
Se há alguma coisa positiva em tudo isso é que Shakira de fato acolheu mulheres que sofrem abandonos parecidos e se sentem mal demais com isso. Sua música rancorosa pega na mão de quem está no chão e levanta. Vamos lá, bola para frente, esse aí não vale nada. Bora rebolar.
A gente demora a perceber as ciladas onde se mete, mas quando enxerga, não consegue mais "desver". Aliás, vocês repararam que PIqué, que era bonitão, ficou meio feinho ultimamente... Desonestidade deve fazer mal para a pele mesmo.
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PS: Não consigo citar todas as mulheres que mandaram mensagens após o texto anterior, conversaram, discutiram, me fizeram crescer. Obrigada demais, sigamos juntas.
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