Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Não é só Bruna Griphao: por que se tolera e normaliza o bonitinho abusivo
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"Eu tô tentando entender por que as pessoas estão enxergando a gente como um relacionamento tóxico", diz Bruna Griphao.
A frase, gatilho para muita gente, é o exemplo de como é fácil entender o comportamento abusivo quando se está de fora. O ímpeto seria abraçar Bruna, dizer que não se tolera ameaças de violência mesmo que sejam de brincadeira. Que não se pode empurrar ninguém na porta do confessionário. Que não se dá um tranco no ombro do parceiro por qualquer motivo. Que essas pequenas atitudes, que parecem ínfimas, são uma lupa para o que vem depois: e quase nunca vem coisa boa.
Toda a situação no BBB 23 deixa claro para o público que o comportamento de Gabriel com a moça, com quem vem ficando desde o começo do programa, não é correto. Bruna não vê. Gabriel chama o que tiveram de uma "coisa tão boa". Tadeu Schmidt tenta brecar a situação dando uma bronca ao vivo com transmissão para todo país. Eles ainda não entendem muito bem. "Você se sente em uma relação tóxica?", pergunta o rapaz. "Não", ela responde.
E você, quando esteve em relacionamento abusivo, se recebesse um alerta transmitido pela TV aberta: perceberia que algo está muito errado?
Eu não.
Bruna diz que já esteve em relacionamentos abusivos. Um clássico: a gente repete o comportamento anterior porque não percebe que aquilo faz mal. Ela sabe que algo está errado, ela sofre um pouco. Mas normaliza o jeito abusivo do moço bonitinho. Um encantamento se junta à carência e parece que o laço é indissolúvel. Ela se agarra ao laço e o que vem da outra ponta dessa corda, o homem, sequer é percebido como nocivo. "Eu não queria expor isso aqui, mas na minha vida eu já vivi muitos relacionamentos abusivos, do tipo com agressão, ameaças. Fico muito triste de estar passando esse exemplo de estar tolerando uma coisa que é errado. Eu não enxergo o Gabriel dessa forma".
Gabriel tem o comportamento padrão. Se mostra chocado. Dá a entender que foi um mal-entendido, como se ESTAR se comportando daquela maneira não significasse que ele É daquele jeito.
Usa um exemplo um tanto covarde — as mães e as irmãs — para mostrar que não faria aquilo com elas. Diz que se Bruna fosse sua irmã ou filha, a protegeria. Como se essas mulheres, com quem possui algum grau de parentesco, fossem merecedoras de respeito. Como se elas, e apenas elas, não fossem alvo de possíveis ameaças como "vai tomar cotoveladas na boca".
Homem não tem que pensar que a parceira é sua mãe para entender como tratá-la. Homem deveria respeitar toda mulher por ela ser exatamente o que é: uma mulher que merece respeito.
As frases ficam redundantes de tão óbvias.
O cara não pode agir violentamente, mas para isso precisa entender o que é violência. Um empurrãozinho de leve no ombro pode ser violentíssimo, por exemplo. Não apenas porque a mãe dele acharia.
A moça deveria fazer alguma coisa? Não é certo culpar a vítima, que está em uma posição de vulnerabilidade ali. Mas entendermos — todas nós — que tem muito cara bonitinho que não vale esforço algum já seria um bom começo.
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