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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Confusão dos blocos em São Paulo: a difícil missão de organizar o caos

Bloco Tarado Ni Você em 2020: deu tudo certo, vai dar ainda mais - Nelson Antoine/UOL
Bloco Tarado Ni Você em 2020: deu tudo certo, vai dar ainda mais Imagem: Nelson Antoine/UOL

Colunista do UOL

11/02/2023 04h00

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Em uma semana, num sábado de manhã como esse, que não decide se chove ou faz Sol, você acordará de ressaca. Enjoado e com dor de cabeça, vai constatar que foi culpa da tradicional queima de largada do Carnaval, na sexta (17).

Aquele momento em que todo mundo sai do trabalho em clima de folia com o furor de viver a vida loucamente até quarta de manhã. O happy hour vira very happy por muitas hours e termina em enxaqueca matinal seguida de vômito. É assim, todo ano, você sabe. Pode ter esquecido, já que são três anos afastado da massa de gente brilhando glitter, por conta da pandemia. Mas se tem uma verdade sobre a próxima sexta-feira, é que você vai queimar a largada.

E aí, sábado que vem, entre um Vonau e uma Cafi Aspirina que você vai empurrar para dentro com Coca-Cola, vai pegar o celular e tentar olhar o feed ainda deitado, com um olho só aberto. É então que vai perceber, se mora em São Paulo, que todas as pessoas que você conhece — e as que não conhece também, mas segue no Instagram — estão no centro da cidade, no bloco Tarado ni Você. Como podem ter tanta vitalidade? Tomaram uma sopa e dormiram cedo na sexta? Será que obedeceram Chico Buarque e se guardaram para quando o Carnaval chegar?

A cena que você verá nas redes sociais por pouco nem existiria. O bloco em homenagem a Caetano quase não sai em 2023, graças a um esquecimento — a organização perdeu a data de inscrição na prefeitura. Muita gente se mobilizou, as regras foram contornadas e está tudo certo. Jeitinho Brasileiro com apelo de desespero. Funcionou. Vai ter Sampa em cima do bloco, bem na esquina da Ipiranga com a São João, bem ali onde alguma coisa acontece.

Como é que a organização de um bloco de carnaval perde a inscrição para o evento mais importante do ano?, perguntou um amigo. Acontece, ué. Até o símbolo do caos, uma festa maluca com gente desnuda que toma as ruas todo ano por quatro dias, tem que ter organização. Os blocos ensaiam, passam músicas, fazem eventos pré-folia. Organizam, se inscrevem, obedecem regras para não prejudicar trânsito em frente aos hospitais, por exemplo.

Está pensando que é bagunça? Bagunça é o que você vai fazer sexta-feira que vem. Folião é regrado. Já comprou fantasia pela internet no começo de fevereiro, fez o pix para a menina que confecciona tiaras e está acompanhando o rastreamento dos Correios, vai levar seu glitter penduradinho no pescoço... Não dá para deixar o espírito da folia tomar conta de você antes da folia efetivamente começar.

Mas como aconteceu com o Tarado, vai dar tudo certo para você também — seu Vonau vai fazer efeito, você vai arrematar com um Big Mac e antes das 16h vai estar pulando por ruas de paralelepípedo no Butantã, sem saber muito bem como foi parar ali. Pronto, começou a folia. É só compartilhar a localização por 8 horas com umas cinco pessoas diferentes, organizar uma agendinha de logística para encontrar o maior número possível de gente conhecida e... bem, eu não vou dar a receita.

Até porque são grandes as chances de você estar perdido sem bateria no celular antes de anoitecer. O bom do Carnaval é que todo dia é um novo caos, seguido de uma dia seguinte para tentar organizar — e passar protetor solar antes de colar estrelinha na cara, amigo.

Mas, para momentos de desespero "não acredito que me perdi de novo", a minha dica é: sempre fique à frente do bloco, à direita. Quando cada um for para um lado, a chance é maior de se encontrar com esse ponto de encontro móvel bem definido. É lá que eu estarei, depois que o Vonau fizer efeito.

Mas você pode me encontrar também no Instagram.