Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É bloco ou bloquinho? Por que dúvida está dividindo paulistas e cariocas
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Tudo começou com um meme feito a partir de uma montagem da Turma da Mônica. A Mônica vem animada na janela do Cascão sorrindo convidar "Vamos no bloquinho?". Ele responde com o mesmo sorriso entusiasmado: "Não!"
Todo mês de fevereiro, recomeça o compartilhamento irônico dessa imagem de humor azedo, em contraposição à empolgação de quem passa uns 10 meses do ano esperando a folia começar. Enquanto as redes sociais explodem glitter, há quem faça questão de deixar bem claro que não vai se misturar com a esbórnia saltitante que flui ao redor de qualquer carroça colorida que emita algum som.
O motivo da preocupação em se posicionar, no entanto, me passa despercebido: você que gosta de Carnaval já dedicou algum tempo a convencer quem não gosta a ir com você? Eu jamais. Se tem uma época do ano que não precisa de MAIS gente é o período em que estou andando 17 km por dia atrás de inúmeros blocos. Quem não gosta pode ficar em casa, ver Netflix, ser feliz do seu jeito triste. Por mim, tudo bem.
O pessoal, porém, está lá, todo ano, afirmando que não vai para um lugar que nem foi convidado.
O meme mal-humorado irritou especialmente pelo termo depreciativo "bloquinho". Eu sei, eu sei. Pode ter uma certa afetuosidade em diminutivos. Não é o caso quando se refere a uma multidão que pulsa: o jeito certo de falar é bloco. Quem vai em bloco todo ano sabe que não cabe a miniatura — a menos que estejamos de fato falando de um bloco pequeno, de crianças com menos de um metro de altura (Andrea Sadi, por exemplo, pariu um bloquinho inteiro de uma vez e se manifestou pedindo permissão para usar o termo — está dado o aval).
A história caiu na mão de Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio e um baluarte da defesa da folia. A culpa pelo diminutivo caiu logo nas costas do paulistano — que faz um Carnaval melhor a cada ano, mas como carioca nunca vai sair de lá para ver como é, continua duvidando. E nem precisa vir, também, já falei que gente não falta em lugar nenhum nessa época.
Bloco é afetuosidade, cada um tem o seu e não se mexe com time que está ganhando, ainda mais depois de passarmos três anos esperando a bagunça.
Os cariocas estão certos (como quase sempre, na minha opinião). Como é que a internet vai chamar o Bola Preta de bloquinho quando a avenida 1º de Março está tomada de gente? Vai falar para alguém que está espremido em Santa Teresa no Céu na Terra que aquilo é um bloquinho. Vão te empurrar de lá e você desce rolando até aprender a chamar de bloco.
O mesmo vale para São Paulo. A Charanga do França enche Santa Cecília inteira de gente. Saia de Chita faz Pompeia e Perdizes virarem um bairro só. O Tarado ni Você eu nem sei dizer — é tão lotado que nunca fui. É bloco, gente. Broco, dependendo da empolgação etílica. E olhe lá.
Quem fala bloquinho é a Mônica no meme mal feito (ela está com um conjunto de inverno de ginástica, quem vai no bloco assim?). Bloquinho é para quem nunca foi num bloco na vida e faz questão de avisar todo mundo que não vai. Bloquinho = quem não gosta de Carnaval. Do mesmo jeito que Sampa é coisa de quem não é de São Paulo (desculpa, Caetano, te amo). Ninguém fala Sampa. E carioca por acaso fala Errejota? Claro que não.
Paulistano acaba culpado de muita coisa — a cidade é feia mesmo, a gente vai fazer o quê? Mas vamos corrigir a injustiça. É bloco para todo mundo que sabe que tem passar filtro solar antes de encher a cara de glitter e tem superpoderes de usar banheiro químico usando meia arrastão. Quem chama de outra coisa está em casa vendo Netflix e reclamando que tem gente feliz no Instagram. Eu, hein.
Aliás, você pode discordar de mim no Instagram. Mas talvez eu só veja as mensagens na quarta-feira de cinzas.
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