Chifre, peruca, óculos 'me beija' e mais: democracia da loja de fantasias

Um moço de seus 20 e poucos anos chega acompanhado do que parece ser seu chefe: 'Você tem aqueles óculos do beijo?', ele indaga acabrunhado. A atendente não entende: 'Quê?', pergunta bem alto.

'Óculos do beijo, aquele que tem as lentes escritas', ele responde ruborizando, para combinar com a camiseta pólo que está usando. O homem ao lado mexe nas perucas, com ar de extrema seriedade. 'Samanta, tem óculos com lente escrita?', a moça do caixa grita para a outra lá no fundo. Samanta faz a pergunta que eu faria: escrito o quê?

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'Me beija', responde o moço. E explica que é uma palavra em cada lente.

'Me beija!', grita a moça do caixa. Samanta ri e avisa que não tem. O chefe do garoto ri também. Ele, mais constrangido ainda, procura algo que o agrade nas prateleiras de chapéus.

Na loja de fantasias, todo mundo é o que quer ser. O julgamento da moça do caixa, se é que existe, passa despercebido. Organizando chapéus de marinheiro sexy no estoque, Samanta se diverte. Eu também. Passado um ano de 900 dias entre um Carnaval e outro, é hora de organizar a folia. E tudo começa pelo vestuário. 'Quero me fantasiar de verso de música', eu explico em casa. Todo mundo despreza. 'Um girassol no meu cabelo, batom vermelho e girassol', eu insisto. Dizem que só meu irmão vai entender minhas fantasias. O danado foi para Olinda, não sei muito bem o que fazer. Vejo uma tiarinha de flores brancas meio sem graça. R$ 30. Guardo de volta.

Entra uma senhora com a neta procurando uma cartola e um maiô prateado. A moça do caixa pergunta se é para ela ou para a criança e a senhora responde irritada que é para a criança. Sua voz tem um tom de imagina se alguém na idade dela vai vestir traje do banho na rua. Depois, ela pergunta se tem saia de tule pink. 'Para criança acabou', responde a vendedora. A senhora explica enfezada que é para ela mesma. Imagina se tem idade para usar uma saia de 25 cm de comprimento... É Carnaval, ué. A compra sai R$ 225.

Um moço com cerca de 1,90 entra perguntando sobre chifres de unicórnio. Depois faz perguntas específicas sobre glitter, demaquilante e barba. A moça não sabe responder. Samanta é chamada de novo. Eu peço para pagar o meu enquanto isso. Um sombreiro, uma saia de paetê amarela, uns colarzinhos e o que mais? Deu R$ 175 por aproximação. Saio rápido para passar na loja de flores artificiais. R$ 29 um buquê de girassóis — indignada compro um feioso por R$ 7,90. Não sei nem se meu irmão vai entender a fantasia. Tudo bem, ele nem está aqui mesmo.

Logística do Carnaval é coisa séria. E não são nem 9h da manhã.

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