Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quem questiona mulher de Arlindo Cruz nunca se colocou no lugar dela
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A polêmica infundada a respeito de Babi Cruz, esposa de Arlindo Cruz, ter assumido o namoro com André Caetano traz à tona a reflexão sobre a monogamia. O fato de ter um relacionamento amoroso com uma terceira pessoa significa desrespeito com seu marido? Ou: amar uma nova pessoa significa deixar de amar quem você já ama?
Arlindo sofreu um AVC que o deixou com sequelas motoras e cognitivas em 2017. Nesse ano, no Carnaval, foi homenageado pela Império Serrano e chegou a desfilar na Sapucaí. Mas nos cinco anos que marcaram essa virada na vida de Babi, que perdeu a virgindade com o sambista e viveu com ele toda a vida adulta, muita coisa aconteceu.
Em um depoimento sensível para a repórter Luiza Souto, em Universa, ela falou sobre o desejo: o relato é sobre um dia (antes da cirurgia que ele fez em 2019, que o deixou mais distante), em que o casal fez amor, segundo ela, por telepatia. Não parece inverossímil. Há cerca de quatro anos, no entanto, ele apresenta menor entendimento daquilo que ocorre ao seu redor.
O assunto me traz a versão holandesa da série Modern Love, que está disponível na Prime Video. O segundo episódio conta a história da advogada Katja (Rifka Lodeizen) e o jornalista Simon (Romijn Conen), que teve um tumor grande no cérebro que deixou sequelas. Katja está obstinada em conseguir processar a médica que tardou em diagnosticar o marido — quando eles perceberam a situação, já não era possível evitar problemas decorrentes da doença. O processo parece ser uma tentativa da advogada de se vingar do que o destino fez com a vida que ela imaginou para si. Dinheiro, no entanto, não bastaria. Simon não está interessado nessa vingança.
A relação dos dois parece ter sido aquele casamento dos sonhos que buscamos: piadas, humor, carinho e interesse em coisas parecidas, como cozinhar ou tomar uma taça de vinho. Mas Simon sabe que hoje falta sexo à mulher e propõe que ela busque se satisfazer com outras pessoas, em uma prova de amor suprema e desapegada. Depois do diálogo franco, ambos tem uma tarde deliciosa, bebendo cerveja com vizinhos em uma calçada e ela, ao deitar para dormir, pergunta se ele não tem mesmo vontade. Ele nega. É claro que ela sente falta do que ele não pode lhe dar mais. Mas ainda o ama, também fica claro — por isso preza inclusive por sua independência. Não vou dar mais spoilers aqui, mas indico o episódio para todo mundo que sabe o que é ver uma pessoa deixar de ser ela mesma, mesmo que continue viva.
A intensidade do relato de Babi é uma reflexão interessante. A independência de Arlindo é impossível, dada sua condição de saúde. Mas ela morou no hospital, acompanhou o coma do marido por 18 meses, viu a filha de 14 anos engravidar, criou um neto. Perdeu dinheiro em processo, vendeu casa, teve que morar dentro de um carro durante a pandemia com a filha e o neto para reduzir os riscos da infecção por Covid no sistema imunológico debilitado de Arlindo. E tem alguém questionando fidelidade?
"O Arlindo tinha muito ciúme de mim. Era doentio. Ele vem de uma linhagem de sambistas machistas. É cultural. E ele perguntava: 'Quantas Babis precisam sucumbir para um Arlindo ser feliz?'. Na época, eu achava que não me incomodava, que fazia por opção porque acreditava que ninguém faria melhor por ele. Mas amo muito esse homem. Tinha uma nuvem chamada amor que me fazia feliz. Penso, sim, que houve uma anulação, que abdiquei de muita coisa da minha vida. Mas sempre fiz questão de manter a inspiração dentro do Arlindo. No lugar de mandar para a 'puta que o pariu', eu gritava: 'Vai compor!'", ela contou à Luiza Souto.
O "vai compor" deve ter funcionado, já que Arlindo cruz tem mais de mil sambas de sua autoria. O amor de Babi por ele está em cada atitude sua. Está na descrição que faz sobre o namorado "que precisa entender que Arlindo e a família são prioridades". Não sei se existe um relacionamento monogâmico mais amoroso que esse. Quem julga não parou para pensar nem por um minuto.
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