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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que mulheres como Maíra Cardi se gabam de serem submissas?

Colunista do UOL

09/03/2023 04h00

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Tem algo que intriga as mulheres que lutam por independência e igualdade de direitos: alguma outra mulher defendendo a submissão. Claro que todas podem ser como quiserem e são livres para tratarem suas vidas conjugais como bem entenderem, mas sempre fica um mal-estar no ar quando se perpetua um comportamento como única alternativa saudável.

É o que rolou quando Maíra Cardi fez o texto em homenagem ao seu novo namorado, Thiago Nigro, o Primo Rico, nas redes sociais. Ali, ela afirma que sempre foi o homem da relação — talvez queira dizer que sempre se colocou em uma posição de liderança nos relacionamentos — mas agora, dessa vez, entendeu como é bom ser submissa.

Conhecemos a vida conjugal de Maíra, especialmente por diversas exposições do que acontecia em seu relacionamento com Arthur Aguiar. Ela explicou longamente traições que sofreu enquanto esteve com ele. São abusos, como ser traída enquanto amamenta, ou não receber nenhum tipo de apoio na maternidade e ter que lidar com as madrugadas sozinha porque o companheiro está vendo séries e se recusa a se levantar.

Mas Maíra de fato sempre tomou a frente — o que talvez ela entenda por masculinidade — e fez o que esperava que o homem fizesse. Para dar um exemplo prático, ela promoveu o próprio casamento surpresa com o ex. O estereótipo cinematográfico presume que o homem peça a mão da mulher, quando, na verdade, quem pediu e quem aceitou não faz a menor diferença para o bom andamento da vida a dois.

Seria submissão esperar do homem atitudes de provedor e de liderança? Pode ser. O conceito é amplamente usado por mulheres evangélicas por ser algo que está na Bíblia. Escrita há 2.000 anos, na época, de fato, se acreditava que mulheres deveriam estar em uma posição um pouco mais baixa que os maridos, pois eram eles que trabalhavam e proviam alimento para que elas cuidassem de um, dois, três, quantos filhos fosse possível gerar.

Hoje tudo mudou. Mulheres têm cargos de liderança — Maíra tem uma força profissional incrível e de fato não precisa ter uma figura masculina ao seu lado para crescer. Os filhos são função do casal. Homens não ajudam, dividem tarefas domésticas. Se encontrar em uma relação de parceria é assim.

Parece que a influencer encontrou na nova relação uma reciprocidade que não tinha quando estava com o apático campeão do BBB 22. É bom estar apaixonada e achar alguém com quem você se sinta inteira. Há uma completude em estar ao lado de um grande ser humano para dividir a vida. Mas a essência disso é provavelmente diferente de submissão. Ser submissa é aceitar traições que incomodam sem dizer nada. Isso ninguém quer, imagino. Quando Maíra se separou tantas vezes de Arthur, estava justamente dando um basta no ser submissa a uma relação que não fazia sentido.

Agora, provavelmente se sente protegida e confiante. O homem que entrou em sua vida preenche lacunas que ela nem imaginava ser possível preencher. É alguém com quem se contar, pelo seu discurso. É isso ser submissa? Ela garante que sim. Mas, daqui de fora, parece apenas um nome bíblico para o que entendemos por companheirismo. Um diz, o outro concorda (ou não). E quando discorda, um dos dois cede. Uma parceria se faz desse jogo sutil de "hoje eu cedo, amanhã você". Um casal de submissos? Não, um casal de seres humanos que se respeita.

Biah Rodrigues, mulher de Sorocaba, questionou recentemente a capa de Rihanna na Vogue: à frente, ela parece liderar o marido, frágil, segurando um bebê no colo. Biblicamente, se trata de uma inversão de valores, como acusam os seguidores da modelo e influenciadora digital. Mas, do ponto de vista do comportamento, é só um jeito de viver.

Mulheres podem sentir que homens devem tomar as atitudes que se esperam deles há 2.000 anos? Até podem, claro. O que não é possível é entender seu modo de vida como o único. E também ter empatia com aquelas que se unem aos homens que se valem disso para terem comportamentos abusivos e violentos.

O perigo de valorizar demais uma palavra usada há 2.000 anos é que ela pode servir como passaporte para sofrimento de quem percebe que não era bem isso que esperava do parceiro, mas não se sente forte o suficiente para dar um basta na situação.

Maíra é forte e potente, levou o casamento anterior nas costas, pelas histórias que contou durante essa relação. E construiu uma carreira sólida. Ela sabe o que quer e merece estar apaixonada por alguém que a valorize. Ser submissa passa bem longe disso.

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