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'The Last of Us' comprova que até gamers gostam mesmo de um novelão
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A fissura do mundo todo é assistir o último episódio de "The Last of Us", que vai ao ar nesse domingo. No mesmo horário em que a HBO disponibiliza o desfecho da série, às 22h, uma hora antes do habitual, celebridades desfilam seus vestidos longos e smoking no tapete vermelho do Oscar. Uma noite daquelas no mundo do entretenimento.
Mas de onde sai o fascínio por mais uma trama de fim do mundo, zumbis, tiros e inverossimilhança?
Além do interesse genuíno dos fãs do jogo de videogame em ver zumbis e cabeças rolando e espirrando sangue, há o frisson em torno do protagonista, o ator chileno Pedro Pascal. Por alguma razão que foge à compreensão de alguns, ele virou de uma hora para outra o objeto de desejo número um de mulheres e homens de mais de 30 anos — talvez mais novas que isso também. Charmoso, simpático e engraçado, o ator por trás do personagem sisudo conquistou fãs que não necessariamente queriam ver pessoas ou monstros degolados.
Há também o fator Bella Ramsey — a atriz que vive a personagem Ellie era carismática até como a mini déspota cruel que interpretava em Game of Thrones. Sua química com Pascal sai da tela e senta no sofá com a gente: a menina órfã e o pai cuidadoso são a fórmula que pega todo mundo que tenha o que se chama por aí de "daddy issues", algo como questões com o pai. Ou seja, todo mundo.
O gamer ávido por sangue espirrando e cenas de ação que fazem as mãos suarem frio não fica desassistido. O couro come em "The Last of Us" e é comum ver uma menina de 14 anos degolando homens feitos. Mas há também delicadezas como a história de amor gay no terceiro episódio — um roteiro que pode ser descolado da série e funciona sozinho, como um quase-longa metragem (tem 75 minutos de duração).
Pascal e Bella interpretam a relação familiar que não deixa devendo para novelão nenhum. Invertem seus papeis de proteção o tempo todo e o amor vai crescendo entre eles enquanto o nosso por eles também cresce. Juntos em todos os perrengues, com seres humanos ou monstros, a mão do público sua no sofá quando por algum motivo eles têm que se separar. Mas o Joel de Pascal sempre volta — de maneira improvável às vezes — para resgatá-la. Tudo bem, é um personagem de videogame, deve ter ganhado mais uma vida.
Ele se faz presente até quando ela nem precisa mais, já que sabe atirar como um adulto, maneja facas com a esperteza de um profissional e é mais inteligente que eu e você juntos. Mas companhia e apoio (a gente pode chamar de amor mesmo em uma série de zumbis sanguinolentos?) são bons sempre.
Ellie pode não precisar que Joel corte o pescoço dos inimigos, mas de um abraço paterno que que diz que tudo vai ficar bem... ah, isso todo mundo precisa.
Essa noite provavelmente devemos assistir um desfecho sem fim — a personagem não deve conseguir salvar o mundo ainda, ou a segunda temporada estaria arruinada. Mas deve ter correria, sangue, abraço e afeto para lembrar ao público da novela que família é o que a gente forma na necessidade. E que amor brota no peito da gente como um fungo bom, mesmo nas situações mais adversas. Mais cafona impossível. E não é uma delícia?
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