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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Envelheceu bem demais: Xuxa chega aos 60 mostrando beleza de se reinventar

Xuxa falou sobre a carreira durante o programa "Altas Horas" - Reprodução/GloboPlay
Xuxa falou sobre a carreira durante o programa 'Altas Horas' Imagem: Reprodução/GloboPlay

Colunista do UOL

26/03/2023 04h00

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Fui alguém meio distante da minha geração: não era fã da Xuxa na infância nos anos 80, acredita? Passado. Agora sou. Tem alguém aí em 2023 que não é fã de Xuxa? Duvido.

Xuxa foi questionada desde o início da carreira pelos mais diversos motivos (falta de paciência com criança, roupa muito curta, ortografia errada, voz fraca para cantar, nomes duvidosos de assistentes de palco — quem teve a ideia de chamar homens fantasiados de inseto de Dengue e Praga?). Mas seguiu, não sem dor, arrastando com ela a legião de fãs que atravessa gerações.

Qualquer criança dos anos 80 vivia para esperá-la sair de uma nave, passar a manhã num palco cantando e dançando, subir na nave e voltar no dia seguinte. O apelido do elástico de cabelo colorido que temos no pulso até hoje é xuxinha. A bota branca que enfeita as fotos dos álbuns de 40 anos atrás foi trazida por ela. Paquita é adjetivo. A apresentadora, magnética, mudou moda e vocabulário no Brasil para sempre. Ilariê.

Mas ela não parou no sucesso que fez. Olhou para trás, fez a autocrítica, assumiu as rugas e a velhice, se reinventou — e não é para estar na mídia, Xuxa não precisa fazer nada para ser notícia. É só porque ela quer ser honesta com o que acredita mesmo.

Hoje, questiona o fato de as paquitas terem seu cabelo tingindo de loiro. Lamenta não poder ter tido paquitas negras. Conta com pesar o fato de ter passado por cirurgias plásticas forçadas nos anos 90. Fala de abuso sexual. Xuxa viveu tudo que é ser mulher no Brasil nas últimas décadas do século passado. Como todas nós, nessa onda do feminismo que chegou para ficar (ainda bem), pensou: "Aquilo ali estava errado". E se não era certo, é importante romper o ciclo falando sobre ele. É o que Xuxa faz.

Ela não fingiu que não aconteceu. Se posicionou. Com 60 anos, não tem medo de mais nada — fala "desgoverno" no Altas Horas sem o menor pudor, para se referir ao último presidente do Brasil. Defende a natureza, defende a potência das minorias. Que mulher. E que beleza é envelhecer.

Adorada pela imensa maioria, se colocou à frente do seu tempo: era contra o casamento, por exemplo. "Me dá coceira", ela diz. É a musa da geração LGBTQIA+ que cresceu com ela, se achando livre para ser o que queria. Respeito, ela pede. A geração "criada" por Xuxa aprendeu a potência de querer, poder e conseguir. Não vale para todo mundo, mas ajuda muita gente.

Hoje, a Rainha dos Baixinhos pode encher a boca para dizer que vai "tentar melhor do que já fez", como na letra de Lua de Cristal. Já conseguiu. Que beleza é ter coragem de ser sempre melhor.

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