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O crachá de Cleber Machado é o carisma e isso ninguém tira dele
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"Não tem coitadinho", diz Cleber Machado ao ser demitido da Globo em março. Ele confessa humildemente que tinha planos de se aposentar na emissora, tentou negociar salário para baixo, inclusive. Muitos considerariam a tentativa humilhante. Mas nem isso rolou, então, bola para frente.
Deu certo. Nesse domingo, ele narra a final do Paulistão, pela Record. O jogo de ida deu uma surra de audiência na sua ex, que apresentava The Masked Singer no horário. Agora emenda nas narrações da Copa do Brasil a partir de terça (11). Não dá para dizer que essa demissão é um fracasso, né?
É claro que é mais tranquilo para alguém que tenha um salário gigantesco ser demitido — com as questões financeiras resolvidas, dá até para dormir a noite toda e acordar com uma grande ideia. Mas, além de segurança na sua conta no banco, o que Cleber Machado tem? E o que a gente também pode ter?
Cleber sempre soube aproveitar oportunidades. Sua estreia narrando jogos na Globo foi em 1989, numa goleada do Corinthians sobre o Tiradentes de Brasília por 5 a 0. Mas ele já narrava jogos desde a infância, nos anos 60, em campos de botão.
A versatilidade o levou a ser por décadas o segundo narrador mais importante da emissora: Fórmula 1, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos? Lá estava ele, humilde, dando seu melhor com extrema simpatia.
E dando protagonismo aos colegas comentaristas: "Não vou fazer grandes análises sobre um esporte com o qual não tenho intimidade, não tenho o dia a dia. Eu vou conduzir a transmissão. Eu vou dar o tom de vibração, de emoção. Na hora que o cara for ganhar a medalha, tudo bem, aí não é com o comentarista, é comigo", disse para o Memória Globo. A tática sempre funcionou, principalmente porque há verdade em tudo que o profissional faz. O público sente e gosta "hoje sim".
Ficar desempregado é uma agonia tremenda. Pode ser desolador por meses ou anos. Quando o dinheiro para de entrar, a agonia se instala. Olhar a situação sem se sentir um coitado parece ainda mais desafiador quando a empresa para quem você dedicou décadas resolve dizer: foi bom, mas agora acabou. A sensação de ser dispensada — por mais que fique claro que não é uma decisão pessoal e, sim, financeira — é um soco no ego. Mas aí a gente chora um dia, fica arrumando umas gavetas dois dias, faz um bolo no fim de semana e então não tem outra saída se não se perguntar "quem eu sou sem um crachá?"
"Alguém sem dinheiro", é a primeira resposta que a consciência dá. Ok, e além disso? O que você sabe fazer? O que você gosta de fazer? O que as pessoas querem que você faça? As respostas podem virar uma planilha no Excel das empresas legais de se trabalhar ou podem te encaminhar para horas diárias de muito pesar lendo o quanto o resto do mundo é bem-sucedido no LinkedIn. Mas podem também causar a viagem interna de verdade: quando a relação com o que é sucesso muda, o dinheiro pode vir de maneiras que nem imaginamos. Vale tentar.
O crachá de Cleber Machado é o carisma — e isso ninguém tira dele. Qual é o seu?
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