Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Luta de Whindersson e violência psicológica: por que a gente aceita isso?
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Tem algo que é muito caro ao pessoal do sexo masculino que é ser um "homem de verdade". E um homem de verdade não pode chorar, não pode fraquejar, não pode ser traído, não pode desistir. Não pode, curiosamente, ser "de verdade".
Esse paradoxo me vem à cabeça quando o lutador polonês Filipek posta uma afronta ao YouTuber brasileiro Whindersson Nunes em seu Instagram. Ambos se enfrentarão em uma luta de celebridades em Londres no dia 22 de abril. "Homem de verdade x corno. Vai perder a consciência como tem perdido mulher", diz a postagem.
Usa, para atacar o adversário, o término de seu casamento com Luísa Sonza, em abril de 2020. O divórcio dos dois foi muito comentado pelos meses seguintes pois a cantora emendou em um relacionamento com o cantor Vitão e os boatos de traição ficaram inflamados por muito tempo. É por isso que Filipek usa a palavra corno, em português. Por algo que faz 3 anos que talvez tenha acontecido.
Entre outras grosserias, o europeu jogou uma bandeira do Piauí com desprezo em uma mesa. Xenofobia, machismo, falta de fair play? O que mais esse cara precisa fazer para ser ignorado midiaticamente?
Vivemos tempos em que a violência psicológica é normalizada e espetacularizada. Quando alguém como o polonês usa propositalmente algo que fere Whindersson — um humorista que viveu após o divórcio um novo namoro, uma gravidez e a perda de um filho — e ninguém se choca com a crueldade? Whin já falou publicamente sobre a depressão. Não seria adequado preservar qualquer pessoa de violências desse tipo?
No momento em que vi a treta, pensei que seria uma boa que o brasileiro se pronunciasse. Que tal declarar que não luta com quem joga baixo desse jeito? Que prefere esportistas de verdade? Logo em seguida, pensei que seria impossível para ele fazer isso. E para qualquer um criado para ser um "homem de verdade" e provar sua masculinidade a todo custo. A ofensa seria resolvida no braço. Qualquer outro movimento seria pautado como covardia.
Foi o que rolou. Whindersson respondeu que em sua terra as coisas se resolvem na faca. Atendeu o chamado. A política do "homem que é homem não arrega". Seus fãs, que o amam, endossaram: querem vê-lo arrebentar o algoz. E depois?
Depois, um monte de gente vai entender que quem ofende merece uns socos, facadas, tiros. Que homem de verdade mostra que é de verdade. E assim vai. A gente termina num grupo de pais apavorados com atentados dentro dos muros escolares. Passou da hora dar audiência para gente que incita violência. Mesmo que seja só pra provocar.
Você pode discordar de mim no Instagram. E se você for o Whindersson Nunes, aproveita, me adiciona, vamos ser amigos, vem tomar uma aqui em casa no dia da luta — você é engraçado demais e te acho pura luz.
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