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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tina Turner foi a primeira a provar que é possível ser gostosa aos 40 anos

Colunista do UOL

24/05/2023 17h09

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Se hoje as mulheres de 40 anos sabem que podem vestir uma roupa curta e se gabar das pernas por aí, Tina Turner, morta nessa quarta (24), desbravou esse caminho nos anos 1980. É por ela que ícones pop vão poder continuar rebolando até o chão aos 40, 50, até quando quiserem.

Ícone mundial, a cantora, nascida em 1939, começou a carreira em 1957, ainda na adolescência. O sucesso estrondoso e o relacionamento violento com Ike Turner a levaram à carreira solo. Sua reinvenção é confirmada em marcas impressionantes alcançadas nos anos 1980 e 1990.

Se, em 1967, ela foi a primeira mulher negra a ser capa da Rolling Stone; em 1985, ela estampava a capa da mesma revista aos 46 anos, de decote e roupa curta, pendurada no galã de Hollywood Mel Gibson. Ele, à época estrelava Mad Max, filme que tinha como música tema o hit de Tina, "We Don't Need Another Hero".

Ela canta Hot Legs com Rod Stewart, em 1981, no Staurday Night Live. Tempos depois repete a parceria num show do cantor de vestidinho solto e hipnotiza. Rod é magnífico, começa a apresentação com Get Back e faz poses e malabarismos com as pernas e microfone nas mãos, porém há momentos em que fica na frente da cantora e há o desejo de pedir licença ao rock star: queremos ver Tina e suas hot legs aos 41 anos.

Seu show no Maracanã em 1988 está no Guinness como o maior público de todos os tempos — mais de 180 mil pessoas se amontoaram no estádio carioca para ver a artista. Veste uma regata e jeans, estilo brejeiro e moderno da época que virou clássico. É magnética.

Em 1993, ela protagoniza outra cena clássica para os brasileiros: de vestido brilhante nude, curto e decotado, ela chama o tímido Ayrton Senna ao palco para cantar "The Best". Ela tinha 54 anos ali. Senna, já tímido, quase some com seu boné azul no palco. Segundos depois de fato desaparece de volta à audiência. Ela ocupa o espaço todo.

O barulho de sua figura é tanto, que Tina virou personagem de novela brasileira. A Tina Pepper de Regina Casé rende até hoje, segundo a atriz carioca. Na entrevista que deu a Mano Brown, no podcast Mano a Mano, nesse 2023, Regina afirma que é reconhecida como mulher negra por algumas pessoas por conta do personagem e, mesmo décadas depois, lembrada fora do país pela interpretação.

Na Broadway, o musical inspirado em Tina ficou em cartaz por anos. Ela, que vendeu mais de 100 milhões de discos, no mundo e tem sósias espalhadas por diversos países.

Foi, aos 44 anos, a artista mais velha a liderar o Hot 100 da Billboard. Até o maior ícone da sensualidade no rock no mundo, Mick Jagger, afirma que se inspirou nela. No dueto histórico de Tina e os Stones no Live Aid, o cantor tira a camisa e rebola, mas a cena é dela. E ela usa isso: é só rock'n'roll e ela gosta.

Abrilhantou o hit mundial dos anos 1990, Cose della Vita, do italiano Eros Ramazotti — em apresentação de 1998, entra no palco de salto, vestido curto, brilhante, decotado e justo. Dança de rosto colado com o cantor aos 59 anos, exalando sex appeal. Eros não tinha nem 30 anos, mas o baile sexy é ditado pela senhora americana.

Quem disse que a mulher não perde a sensualidade depois dos 40 anos? Foi Tina Turner quem mostrou.

Na doença que tirou sua vida, foi cuidada por Erwin Bach, seu marido alemão, na Suíça. Ser sexy é também ser elegante, amar devagarinho, fazer o que bem entender.

Tina correu para que a gente pudesse andar com nossos shorts curtos e minissaias depois dos 40. E esse legado de liberdade e bem-estar, a gente vai usar para sempre. Você pode discordar de mim no Instagram.