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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Se hoje for o último episódio de Ted Lasso, como vamos viver?

Um brinde a "Ted Lasso"! - Divulgação
Um brinde a 'Ted Lasso'! Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

31/05/2023 04h00

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Eu queria que não acabasse nunca. Se não assistir ao episódio de "Ted Lasso" nessa quarta (31), é possível que a série nunca acabe? É possível que não acabe também se assistir — a Apple não confirmou que essa é a última temporada. Mas a estrela do episódio, que vive Ted, Jason Sudeikis, disse em entrevista que o episódio disponível nesse fim de maio termina de contar a história do jeito que eles gostariam de contar. E que história!

Ainda diz, de maneira que o próprio Lasso diria, que, quando o episódio acabar, talvez o fã se sinta satisfeito e pense que realmente não era preciso de mais nada. Parece impossível discordar de Ted Lasso em pessoa, mas como assim não precisaríamos de mais um episódio?

O seriado cobriu um buraco estava aberto na pandemia: em 2020, sem poder conviver com os amigos, buscávamos alguém com quem conversar. Quer alguém melhor que um americano que dá lições sem parar, fala coisas engraçadas, traz referências pop e ainda sofre por amor? Lasso é nosso amigo íntimo, alguém com quem tivemos a sorte de conviver em um período em que pouca gente entrava em nossas casas.

Ted Lasso é também um pouco a gente mesmo: imperfeito, ansioso, em crise, sofrendo com a ausência paterna, com questões com a mãe, com a ex, com o filho, querendo ser melhor.

Parece que o técnico entendeu à risca a expressão que diz "as pessoas estão vivendo batalhas das quais você não tem ideia, seja gentil". Gentil com os adversários, com os inimigos, com os colegas, com os chefes, com a ex, com o atual da ex, com os que não são gentis.

Será que melhora a vida se pudermos Ted Lassear um pouco? Talvez utópico demais quando o tempo fecha nas relações, no trabalho, na família. Mas na Londres de Lasso tudo vive nublado, ué. "Sabe quando eles dizem que a juventude é desperdiçada nos jovens? Não deixe a era da sabedoria ser desperdiçada em você", ele retruca. Ui, coach.

Ali, temos o tempo necessário da comédia nos ensinando o tempo todo. É engraçado quando se para em silêncio e a gente espera a próxima piada, mas, na nossa rotina, fazer isso é responder de maneira mais esperta. Ted Lasseia aí para você ver.

No pacote, ainda tem união de companheiros de trabalho, compreensão sobre como o outro pensa, amor para todos os lados.

Leslie Higgins me explica como manter um casamento, Rebbeca me mostra como superar a traição, Roy aprende (e a gente também) que por trás daquele desafeto tem um bom coração, Jamie olha para si por dentro e sugere que façamos o mesmo, Keeley garante que dá para se reniventar todo dia que for necessário.

Nate descobre que é possível se perdoar e se dar outra chance, Coach Beard deixa claro que todo mundo tem um quê esquisito, Collin escancara a beleza de ser quem é, Sam mostra a serenidade de continuar lutando, Dani Rojas sorri concordando com a cabeça. Alegria também é vida.

E Trent, como eu, toma notas de tudo — documentar é importante para o dia em que aquilo tudo acabar. Ted garante que o peixe é feliz por ter 10 segundos de memória, mas a gente não é louco de esquecer tudo o que viveu.

Lá em 2020, meus amigos do Richmond FC tocavam em um cartaz que afirmava "Believe" ("Acredite"). Funcionou. Três anos depois, somos diferentes. Mas somos melhores principalmente por que chegamos até aqui juntos.

Parece piegas — e é mesmo — mas está ali a beleza da arte. O entretenimento que muda alguma coisa dentro de você.

Se cifras milionárias não seduzirem elenco e produção a inventar uma quarta temporada não prevista, quando acabar o 12o episódio estaremos olhando para a tela. Pensando como o mundo seria melhor se fosse um tantinho mais humano. Ensimesmados que somos, às vezes basta olhar para o lado. Ted mostrou como se faz nos últimos três anos. É fácil: basta copiá-lo.

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