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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Valéria, na Netflix: sexo gostoso em relacionamento sem rótulo parece pouco

Valéria, na Netflix: o cara é gato e leva vinho, mas ela quer mais - Divulgação
Valéria, na Netflix: o cara é gato e leva vinho, mas ela quer mais Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

13/06/2023 04h00

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A gente tem uma certa tendência a se contentar com migalhas sentimentais. Fragmentos de afeto que, no deserto de humanidade em que vivemos, parecem ok, mas são pouco. Tudo depende da fase da vida que estamos vivendo.

A espanhola Valéria, da Netflix, chega à terceira temporada com essa premissa. Se estamos com a pessoa de quem a gente gosta, não deveria bastar? A escritora protagonista da série começa achando que sim. Porém, depois de certo tempo em um relacionamento "sem rótulos", ela sente falta de coisas simples como colocar uma pipoca na boca do rapaz no cinema. Dar uns beijinhos no meio do filme, quem sabe? Ouvir um "eu te amo" que sai do fundo da alma depois da melhor trepada do mundo pode ser uma boa ideia também.

Victor, o par da mocinha, não corresponde. Ele até compra a pipoca. Ele até vibra quando termina de transar e expressa sua satisfação com um "uau". Ele chega com vinho e um sorriso charmoso demais para ser verdade. Deveria bastar, mas ela está incomodada. E nem é por não ter foto de casal para postar no Instagram. Não tem nada a ver com se afirmar para os outros. Falta algo muito mais profundo que isso, lá dentro dela.

O auge do tesão quando se está apaixonada e se tem uma relação sexualmente ativa deixa de ser transar na escada de incêndio do prédio às 15h de uma dia de semana. E passa a ser... andar de mão dada e tomar um sorvete. Aspirações "calientes" que tiram o sono de mulheres maduras podem ser pueris como um namoro do ensino fundamental. Não tem só a ver com desejo, é coisa do Cupido mesmo. Valéria quer namorar. Colocar uma etiqueta cheia de coraçõezinhos em um relacionamento sem rótulos. É assim que tudo rui.

A questão não é apenas estar com a pessoa de quem gosta, isso ela tem várias vezes por semana, pelada, por cima, por baixo. Mas ela quer que ele esteja com ela, reciprocamente, da maneira que imagina. Se identificou?

Como assim, transou com outra?

O ápice da insatisfação é descobrir que ele tem transado com outras mulheres. Não seria crime nenhum, ninguém havia prometido fidelidade ou exclusividade nesse contexto. Mas Valéria não quer que Victor faça com ela o que ela nem cogita fazer com ele. A abertura do namoro-não-namoro se dá de um lado só. Ela não quer transar com outro e não quer que ele transe também.

Mas antes que a gente caia na vala dos relacionamentos modernos não-monogâmicos e comece discutir posse, dá para entender que o problema da protagonista não é apenas dividir o cara com outras. É não tê-lo inteiro nem quando ele está ali.

Como é difícil dar um basta em uma situação como essa... É melhor ficar com as migalhas ou preferível ficar sem nada? Nessa segunda (12), dia dos namorados no Brasil, o solteiro deixou o celular de lado, exausto com posts apaixonados de casais que podem nem ser lá tão apaixonados assim. Ter o rótulo muda alguma coisa? Bobagem. Não é o rótulo que Valéria quer, é a reciprocidade.

O cara pode ser gentil, bonitão e trazer o sexo perfeito — sempre que ele estiver disponível, claro. É isso que você quer?

O chega para lá na situação pode abrir a porta para relacionamentos mais legais que aquele. Ou para entender que é ok estar com Victor do jeito que é — as pessoas dão o que têm para oferecer. E melhor ainda: para a consciência de que completa mesmo é a mulher que está bem consigo mesma. Aí não tem Victor com garrafa de vinho que atrapalhe sua paz. A consciência do que é realmente imprescindível é só a gente que pode ter.

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