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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Devia ter dado mais': por que Xuxa, Tais Araújo e outras se arrependem?

Xuxa no Mais Você (Globo): ela admite que gostaria de ter dado mais - Reprodução/TV Globo
Xuxa no Mais Você (Globo): ela admite que gostaria de ter dado mais Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

16/07/2023 04h00

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Quando Tais Araújo falou no podcast de Giovanna Ewbank e Fê Paes Leme que deveria ter dado mais, soou mal para algumas pessoas que fizeram uma volta gigante para concluir que:

1. Dizer que queria ter dado mais é sinônimo de não estar satisfeita sexualmente.
2. Querer dar para outras pessoas antes de conhecer o marido é traição.

As teorias são tão estapafúrdias que escrevi as linhas acima balançando a cabeça negativamente. É claro que você pode estar satisfeita com o parceiro e ter uma curiosidade de como seria a sua vida caso tivesse tido mais parceiros.

E é claro que pensar isso não simboliza traição: é justamente por não ter vontade de trair que você olha para trás e pensa que poderia não ter sido tão certinha antes de conhecê-lo.

Tais teve um breve período de separação de Lázaro Ramos e nem assim aproveitou. Quando olha para trás, pensa que deveria ter curtido mais.

A própria Xuxa, que garante estar muito bem, obrigada, com o marido Junno Andrade, admitiu ter a mesma dúvida. Famosa desde muito jovem, ela engatou namoros sérios com pessoas muito conhecidas. Queria ter dado mais, despretensiosamente, quando era época de fazer uma baguncinha por aí, ué.

Agora, em um relacionamento estável aos 60, provavelmente nem se dará o trabalho de baixar o app de encontros — imagina só dar match com a rainha? Era para ser antes, agora ela não quer abrir mão do que tem.

Nenhuma das duas mulheres — nem as outras milhares que secretamente pensam a mesma coisa por aí — está assumindo algo errado. Na juventude, a gente atribui sexo à má fama das moças. Muitas dizem não para não ficarem faladas, apesar de estarem com vontade, sim.

O "não" é importante porque não sair com qualquer um é um jeito legal de preservar energia e bem-estar, claro. Mas transar com quem tem vontade é um jeito livre de se conhecer, de conhecer o outro e de entrar naquele modo confortável de admitir: prefiro me arrepender do que fiz. Experiência sexual não tem relação com caráter.

Com os homens é diferente. É improvável que um cara chegue aos 40 anos arrependido de ter se negado a fazer sexo com alguma mulher quando estava solteiro. Já imaginou Sérgio Britto, dos Titãs, lançando a braba em "Epitáfio"? "Devia ter conversado mais, ter transado mais, ter visto mais sutiãs?"

A gente zela demais pelo que os outros pensam quando, no fundo, aquela máxima de bar que diz "ninguém liga para o que você faz" é que deveria ser o norte das atitudes. Todo mundo deveria se soltar na juventude. Aí, com a segurança dos 40 ou 60 anos, você pode dar uma entrevista dizendo: "devia ter dado menos". Mentira, eu duvido que o arrependimento de ter feito chegue a tanto.

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