Luciana Bugni

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Opinião

A dolorida morte de Matthew Perry: uma poltrona vazia e um amigo a menos

Sábado (28) à tarde, eu confessava para um amigo que não sou lá muito fã de brigadeiro — opinião bem impopular. Diante da indignação dele, lembramos o dia em que outro amigo confessou para a turma inteira que não gostava de cachorros. Rimos do absurdo da afirmação. Quem não gosta de filhotes?

Chandler Bing, esse amigo, é um personagem de TV. Ele nos acompanha há tantos anos que virou parte das nossas turmas. A gente copia o jeito dele de fazer piada, suas expressões faciais e usa seus bordões como se fossem nossos há tempos.

Um cara que fumava escondido, guardando o cigarro aceso dentro da gaveta do escritório. Que tinha uma namorada escandalosa que entrava na casa da gente gritando, mas que a gente aceitava por ele. Não sabíamos direito o que ele fazia no trabalho, mas gostávamos do jeito debochado que ele tratava qualquer assunto. Mais tarde, quando ele começou a namorar uma de nossas amigas escondido, todo mundo entendeu que eles eram feitos um para o outro. Chandler era engraçado demais.

Horas depois da minha conversa sobre Chandler, uma amiga me avisou pelo celular que Matthew Perry, o ator que o interpretava em Friends, havia morrido. A vida fica em suspenso quando um amigo morre de repente. Afogamento em uma banheira, após dois anos de sobriedade, longe de álcool e de drogas. A imagem da morte, da solidão, da ausência de riso. Uma tristeza dos amigos todos: os de lá na TV, sentados em poltronas confortáveis, e os de cá, que se alimentam dessa turma há cerca de 30 anos.

Quando fui morar sozinha após um divórcio, não tinha nem internet no apartamento, mas já cheguei antes da mudança com um balde de tinta lilás e uma moldurinha amarela que enfeitariam minha porta. A porta de "Friends". Como se, a qualquer momento, a porta pudesse abrir e o vizinho da frente entrasse procurando algo em minha geladeira, fazendo caretas, rindo das minhas manias.

"Friends" é a série de conforto de quase todo mundo. Quer parar de pensar em problemas? Coloca aquele em que a Rachel entra no Central Perk vestida de noiva e recomeça tudo de novo. Anda intrigado com a maturidade? Coloca aquele em que todos fazem 30 anos e a gente pode pelo menos rir das inquietudes. Aquele em que Monica é queimada por uma água viva e uma decisão drástica é tomada. Aquele em que Janice volta. Aquele em que Monica está gripada tentando transar. Aquele...

A gente sente por não ter estado lá por ele, como uma dívida de gratidão. Poxa, Matthew, você me tirou do buraco tantas vezes, como eu não pude te ajudar? Ele foi capaz de fazer o mundo rir enquanto rasteja de dor. Como pode ser tão triste a morte de alguém que a gente sequer conhece?

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Choveu no sábado à noite. Meu filho dançando no quintal no primeiro banho de chuva de sua vida. O riso perdura sempre, Chandler não morre. Mas eu choro pelos amigos que temos perdido, pela maneira como as poltronas têm ficado vazias. As turmas com um a menos. A porta lilás fechada, por onde não entra mais ninguém.

Um episódio diferente: aquele em que a gente ficou muito triste.
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Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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