Corpo de Yasmin Brunet: todo mundo critica Rodriguinho, mas age parecido
Minhas mãos digitam este texto no teclado do computador. Paro e olho as unhas: o esmalte descascou no indicador. Preciso passar removedor em todas as unhas, porque unhas descascadas são sinal de desleixo, eu penso enquanto me preparo para escrever um texto sobre a pressão estética.
O motivo, você sabe: Yasmin Brunet, uma mulher padrão fora do comum — modelo, magra, loira, estonteantemente bonita — foi criticada pelo seu corpo no Big Brother Brasil.
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O grupo de homens, liderado por Rodriguinho, afirmou também que ela está velha aos 35 anos. Se Yasmin é velha ou descuidada com aparência, o que será que Rodriguinho e sua turma pensaria do meu esmalte descascado? Do meu corpo? Do meu cabelo branco?
Provavelmente a mesma coisa que eu penso. De tanto recebermos críticas à aparência durante toda a vida, há muitas gerações, aprendemos a ser rígidas a respeito de nossos corpos também. E a nos submetermos a demoradas, doloridas e caras sessões estéticas para ficarmos dentro dos padrões.
De entediantes momentos na manicure a sofridos procedimentos com pinça nas sobrancelhas. Passamos horas na função para melhorar esteticamente algo que teoricamente já vem pronto de fábrica.
É vaidade, pode fazer bem, o pessoal chama até de autocuidado, eu sei. Mas mulheres morrem por fazer lipoaspiração no joelho, incomodadas com gorduras muitas vezes invisíveis. Está na nossa cabeça — por que colocaram lá — que tudo é pouco quando o assunto é ficar mais bonita. A gente sempre entra devendo.
Yasmin está sem maquiagem na televisão, diferentemente do que costumamos ver nas fotos que ela faz profissionalmente. Um grupo de homens que mora com ela conclui que ela está aquém do que se espera de sua beleza. Aqui fora, a gente também olha para o espelho achando que algo não está bom todo dia.
A solução? Falar disso é um caminho. Devolver na mesma moeda, criticando a aparência dos caras publicamente? Não tenho certeza se funciona a longo prazo, mas pode ser divertido por alguns momentos, sim. Porém, mais do que impedir homens de falar bobagem, seria importante a gente se revistar.
O esmalte vai ficar descascado mais um pouco, o cabelo vai passar outro mês sem tingir. E eu vou ficar de boa, porque tenho mais o que fazer. Acordo todo dia tentando fazer as pazes com o espelho, apesar de ter os padrões dos machos do BBB fixados na minha cabeça há décadas.
É um esforço supremo. Mas todo dia a gente ganha uma pequena batalha nessa missão de gostar mais de si. Isso, sim, é autocuidado de verdade.
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Opinião
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