Luciana Bugni

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Opinião

Como na série 'Lia e Léo': deixar celular com parceiro prova confiança?

Lia (Flávia Alessandra) está trancada no banheiro com o celular do parceiro, Léo (Otaviano Costa), em cena de "Lia e Léo", série de ficção original do UOL. Ele, do lado de fora, sua de frio. Pede que ele devolva o aparelho. E garante que há uma versão sua digital e outra offline. Ela se pergunta intrigada: quem é você que eu não conheço?

Na timeline do moço, nada demais: vídeos da médica e apresentadora de TV Sandra Lee espremendo espinhas e conteúdos sobre leilão de cavalos, com a ligeira possibilidade de ele ter comprado sêmen do animal para passar no corpo (sim, também fiquei um pouco chocada).

Mas o debate causa identificação porque muita gente se pergunta se deve ou não ter livre acesso ao celular do outro. Afinal, respeito à privacidade é desrespeito ao casal?

O advento do smartphone em janelas que se abrem para o mundo facilitou fatalmente puladas de cerca —mas é fato que elas, as traições, já existiam antes de emojis de dois olhinhos e berinjelas apimentarem (será?) relações online.

Porém, a discussão em torno do assunto deveria ser se a gente realmente precisa saber tudo sobre o outro para ter relações sadias. Ainda mais hoje, passados os tempos medievais, em que se discute a aplicabilidade de relacionamentos abertos (tenho até amigos que são).

É preciso patrulhar a intimidade do outro para ter certeza de que conhece seu amor ou vale a pena contentar-se com a parte do par que quer ser vista em um relacionamento sincero?

Otaviano Costa e Flávia Alessandra em cena da série Lia e Léo
Otaviano Costa e Flávia Alessandra em cena da série Lia e Léo Imagem: @madeincharles/UOL

Outro dia compartilhei localização com um amigo por oito horas no meio do Carnaval: para muitos prova de confiança maior que transar sem camisinha. Sim, os critérios mudaram um pouco.

Complicado contemplar o que é saber tudo de alguém. O Google me disse que meu cérebro tem 86 bilhões de neurônios. Controlar as 7.000 conexões que cada um deles faz parece uma tarefa inglória. E de tarefas, todo mundo está cheio.

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Que os casais possam viver suas timelines como Léo e Lia —e aí talvez caibam esquisitices daquelas que a gente prefere que o celular caia na privada a confessar.

Se a parte que seu ser amado quer que você veja bastar, talvez já seja a sorte grande em tempos de tanta desconexão conectada por algoritmos que nem querem que a gente saiba o que deseja.

Mistério sempre há de pintar por aí, diria Gil. Que bom para o amor.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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