Luciana Bugni

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Opinião

Maria Ribeiro elogiando Luisa Arraes é aula para mães e madrastas

Tem uma máxima meio velada no relacionamento das pessoas: se você gosta do meu filho e o trata bem, eu gosto de você. Cada vez que vejo um amigo meu de décadas ser gentil com o meu, de 7 anos, sinto como se o amor aumentasse. Vale para os funcionários da escola, para os professores de piano e para o pessoal do clube — um monte de adulto que faz com ele aula de kung fu. E valerá caso ele venha a ter uma madrasta que goste e cuide bem dele.

Por isso me emocionei com o relato de Maria Ribeiro no aniversário de Luisa Arraes, atual mulher de Caio Blat. Maria e ele tiveram um filho, Bento, há 14 anos. Desde que casou com o ator, após o divórcio, Luisa assumiu o papel de madrasta do garoto, então com 7 anos. "A comadre, minha amiga, minha parceira de uma história pra qual ainda não inventaram nenhum nome, mas que podemos chamar de amor", diz a mãe de Bento.

Claro que existem mulheres que não se importam com os enteados. Mas será que por elas as tantas outras dotadas de empatia devem ser rotuladas como as personagens maldosas de filme infantil?

Realmente não tem um nome para a relação de uma mulher com a mulher que também vive com seu filho em outra casa. Como você chama aquela que o leva para viajar para lugares em que você não está, que acolhe quando tem pesadelos, que acorda mais cedo para preparar seu almoço na volta da escola, que para a enxaqueca no meio para estudar geografia na semana de provas? Eu não vejo outro nome que não seja amor. "Irmã", responde Luisa. Faz sentido também: que loucura dividir com uma desconhecida a sua maior preocupação. Quem escreveu que o destino dessas duas mulheres se uniria em tamanho laço? E como receber isso com menos gratidão que Maria?

Que coisa bonita se aliar no amor a alguém que você não escolheu, mas a vida fez com que precisasse confiar para cuidar da coisa mais preciosa que se tem: o seu filho. Que lindo é o desapego de ceder à compreensão de que a criança pode amar outra pessoa. E que será uma sorte se essa outra mulher for do bem e quiser a mesma coisa que você, a felicidade dele. A gratidão de Maria Ribeiro é um ponto fora da curva entre tantas histórias que ouvimos por aí de ciúme e de intrigas. "Obrigada pelo piano, pelos quebra-cabeças, pela terapia de família, pelos vídeos de aniversário, pelas delicadezas, pela força, pela escuta, pelas falas. Eu te amo e é pra sempre", ela diz.

A Disney não ajudou muito a fortalecer a imagem das madrastas junto às mães. Traições de maridos também afastam a possibilidade de relações saudáveis quando quase tudo é mágoa. E aí ficam esquecidas as boas madrastas. Aquelas que por alguma razão foram dotadas de intensa capacidade de amar filhos que não são delas. Aquelas que chegaram no meio do caminho, não têm voz ativa nem poder de transformar o que está errado, e fazem o que é possível: distribuem amor sem saber ao certo se vem algo em troca. Geralmente não vem.

Mas veio a mensagem de Maria Ribeiro, a força de uma mulher que reconhece na outra a parceria da qual sempre precisou — não é fácil educar alguém — e agradece.

Bento, o enteado de Luisa, nem sabe, mas ainda vai agradecer muito à mãe ter lhe permitido a liberdade de amar livremente. É bonito de ver o amor propagando, como uma intensa corrente.

Daqui, dá para entender um pouco por que eu, como madrasta, fiz o que fiz nos últimos dez anos. A gente, que acredita no amor, é meio incorrigível. Hoje Maria Ribeiro me viu e eu agradeço.

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Você pode discordar de mim no Instagram. Ou agradecer diretamente a madrasta de seu filho que vai fazer bem para todo mundo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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