Luciana Bugni

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Opinião

Volta do Oasis: estamos vivendo ou apenas desesperados esperando nostalgia?

"É só minha imaginação ou eu finalmente achei algo pelo que vale a pena viver?", pergunta Liam Gallagher em "Cigarettes and Alcohol", um dos sucessos que alimenta os fãs de Oasis desde que seu irmão, Noel, pegou seu amplificador e saiu fora da banda declarando que não conseguia trabalhar mais um dia ao lado do caçula.

A banda dos garotos ingleses proletários que vendem um estereótipo arrogante conquistou as paradas do mundo inteiro com "Wonderwall" e era sucesso no Disk MTV no Brasil nos anos 90. Na terça (27), eles prometeram o retorno para 2025, após um hiato de 15 anos, e voltaram a ser assunto mundial.

Os versos abraçavam quem sentia uma revolta parecida com a deles a respeito de falta de privilégios ("As pessoas acreditam que vão fugir no verão, mas eu e você só vamos viver e morrer") e, mesmo assim, esperança ("Você não acha que vai achar um lugar melhor para brincar?"). E seguiu conquistando mesmo quem não é contemporâneo — Oasis é a banda favorita de uma fatia da Geração Z, que nem sabia ler quando Noel levou sua viola embora e disse "não brinco mais".

Fã de Oasis é uma classe diferente. Descrevem a banda como a melhor do mundo e ovacionam os hits. A paixão interrompida pelo rompimento ficou ainda mais forte. Imagina a banda da sua vida estar viva, ninguém ter sido assassinado, tido uma overdose ou morrido de Aids? A única coisa que precisa é resolver uma tretinha de família para dar certo de novo. É isso que fãs esperaram nos últimos 15 anos, como a mãe que torce para que os filhos voltem a se dar bem para todo mundo passar o próximo Natal junto.

Aconteceu, mas não foi bem por isso que rolou a reaproximação. Dizem que Noel está devendo uma grana após o divórcio, que o descapitalizou em 20 milhões de libras. O que é um irmão mais novo meio irritante perto desse montante negativo? Não dá para saber a real motivação — o fato é que ambos estarão no mesmo palco em breve. "Não olhe para o passado com raiva", eles cantam há 30 anos. Vamos ver se se escutam.

Ainda tem outra mítica sobre o retorno, que agrada os boleiros: eles são torcedores fanáticos do Manchester City. Tanto que "Wonderwall" é música recorrente em comemoração de torcida (e até dos jogadores). Até 2009, quando o Oasis rompeu, o Man City tinha ganhado 12 títulos na história. Desde então, ganhou 24 títulos! No ano passado, finalmente o time venceu a Champions League pela primeira vez — e, na época, Liam prometeu em um tweet que poderiam voltar a tocar juntos caso levassem a taça. Hoje, eles são os atuais tetracampeões ingleses. Nunca, desde 1889, nenhum time ganhou quatro vezes a Liga Inglesa. Vai mexer com duas paixões dos ingleses juntas para ver o que acontece...

A Heineken pegou o zeitgeist e postou que o brinde é para o time que venceu a Champions e fez os irmãos reunirem a bandinha. Tem promessa que é coisa séria mesmo. Mais séria que 20 milhões a menos na conta. "Você pode esperar a vida toda (...) Porque quando vem ao topo, você tem que fazer acontecer", diz a letra premonitória.

No lado de baixo do palco, um mundo inteiro celebra nas redes sociais a possibilidade de voltar no tempo, contrariando os versos de Noel: "Não olhe para trás porque você sabe o que você pode ver" ou "Qual o problema com você? Me cante algo novo". Ninguém está muito interessado no porvir quando o presente parece tão suado e o passado um confortável sofá onde se era feliz (e talvez até soubesse disso). "Talvez você seja o mesmo que eu. E você e eu viveremos para sempre", repetem oasismaníacos enquanto fazem contas da conversão de reais para libras.

O seu time pode ganhar o título mais importante depois de quase 130 anos. A banda da sua juventude pode voltar depois de 15 anos. E você pode passar a vida cantando letras pessimistas e mesmo assim acreditar que há uma "Wonderwall" em algum lugar. Vai entender como a música mexe com o coração da gente...

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Revivais de bandas que se foram parecem um pouco de esperança quando o mundo como conhecemos cambaleia como vemos. Dá para olhar tudo com arrogância, mas dá também para pedir socorro ("Me apoie, ninguém sabe como vai ser"). E dá para tomar uns chacoalhões de sua banda preferida de 30 anos atrás enquanto pula em cima das memórias de juventude e elas levantam como poeira: "Pegue o que você precisa e seja seu próprio caminho. Pare de sofrer tanto", bradam ao som distorcido da guitarra.

"Por favor não coloque sua vida nas mãos de uma banda de rock que vai jogar tudo fora", diz um dos versos mais populares. A massa ignora. E segue justamente por isso.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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