Xuxa e Fátima Bernardes de volta à Globo: a vez das maduras, finalmente
Imagina só sua ex-firma te chamar de volta quando você já tiver passado dos 60 anos — a peso de ouro, provavelmente?
O combate ao etarismo às mulheres no mercado de trabalho parece estar colhendo os primeiros frutos. Duas apresentadoras de 61 anos estão acertando sua volta à programação da Globo. Xuxa já confirmou que vai ter um quadro no Fantástico, voltado à adoção de animais. Fátima Bernardes, especula-se, terá um programa de auditório noturno. O público vibra com o retorno, como se fosse reencontrar amigas queridas a quem não vê há algum tempo.
O movimento é um pouco diferente do que costumamos ver na emissora nas últimas décadas. A própria Fátima saiu da apresentação do Jornal Nacional ao completar 50 anos. Aconteceu o mesmo com Sandra Annenberg, aos 51, no Jornal Hoje — apesar de sinergia com o público, que lamentou muito sua despedida, a emissora entendeu que era o momento de colocar alguém mais jovem no lugar.
Hoje, a estratégia parece diferente. A contração de Eliana, aos 50, foi aguardadíssima. E apesar de também estarem apostando em nomes jovens como Ana Clara Lima, de 27 anos, e Tati Machado, 33, a maturidade entra como uma vantagem no currículo.
Xuxa parou o Brasil imitando Angélica no lip sync do Domingão do Huck. O mesmo aconteceu no lançamento do doc das Paquitas, no Altas Horas. Aparentemente, anos de estrada e carisma são diretamente proporcionais.
Fátima colhe elogios em tudo o que faz. Durante a Olimpíada, enquanto na internet o público compartilhava memes de esportistas dando patadas e deixando repórteres inexperientes constrangidos por terem feito perguntas bobas, a jornalista caprichava no conteúdo para seu canal no Youtube. Suas entrevistas com Rayssa Leal e Rebeca Andrade chamaram a atenção pelo carisma e pela... experiência. Sim, pouco se fala, mas a idade vem com benefícios que a gente não compra em cursos online para ostentar no LinkedIn...
A psicóloga e doutora em comunicação e cultura Gisela Castro, que é professora titular do mestrado e doutorado em comunicação e consumo da ESPM com pesquisa sobre envelhecimento, longevidade e intergeracionalidade, falou para o podcast "Boa Noite, Internet" sobre o assunto. Segundo ela, foi surpreendente perceber, em Londres, que pessoas de cabeça branca compunham os ambientes nas empresas. Ela foi pesquisar e contaram que, anos antes, demitiram os mais velhos com o argumento de serem caros, morosos e terem dificuldade de aprender coisas novas. E aí veio a crise. "Tiveram que chamar de volta. Quem fez isso primeiro foram os bancos e o setor financeiro. Ninguém ia seguir se não tivesse gente que ficasse calma, serena no meio da crise. Todo mundo fica apavorado", contou.
Em Londres, os bancos e o setor financeiro entenderam. No Brasil, a Rede Globo parece ter entendido também. O pessoal que nasceu na segunda metade do século passado construiu habilidades que a juventude conectada não precisou criar. E, surpresa: elas são úteis até agora. Por essa o Chat GPT não esperava.
Outro dia, em uma entrevista, a reitora da Universidade de Georgetown, Hillary Sale, me disse que há muitas coisas que precisamos aprender com os jovens, mas eles estão errados em outras. Um dos exemplos é a vontade de trabalhar remotamente 100% do tempo. Pode funcionar, mas perde-se aprendizados importantes que podem ser adquiridos no simples ato de tomar café no escritório. Observar quem sabe mais e copiar: taí um truque que não envelhece, com o perdão do trocadilho.
A dica é mais ou menos simples: em vez de ficar nas redes sociais esbanjando opinião, o truque é ficar mais calado e observar. Assumir a dúvida — ninguém precisa saber tudo. Aprenda com quem manja, dizia-se antigamente. Segue valendo. E, na Globo, está valendo um dinheirão.
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