Luciana Bugni

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Opinião

'Emily em Paris': até entretenimento para não pensar em nada tem limite

Outro dia li no jornal algo sobre um estudo publicado recentemente na revista científica Psychological Bulletin. O resumo é que pensar dói. Sim, o esforço psicológico é algo que nos afeta fisicamente. É sofrido raciocinar. E ninguém gosta de sofrer.

Deve ser por isso, eu penso na sequência, que todo mundo gosta de "Emily em Paris", a série da Netflix que causa tanto frisson. A quarta temporada foi dividida em duas partes. É uma das mais vistas da plataforma de streaming atualmente.

Emily usa umas roupas que a maioria das pessoas que eu conheço não usaria. O fashionismo é levado às consequências mais extremas em muitos babados. E fica com uns caras que a maioria das pessoas que conheço ficaria —um monte de homem bonito vindo das mais diferentes partes da Europa.

A americana desprovida de carisma (Lilly Collins é legal, Emily não) tem uns amigos que são até leais demais perto das presepadas que ela apronta: ficar com o namorado de uma, trair o próprio boy com o vizinho de baixo, mentir para todo mundo e dar umas puxadas de tapete no trabalho. E, depois de uma breve crise de consciência, resolver todos os problemas e sair como heroína da história.

É insuportável. E eu estou assistindo isso há quatro anos. Você também, provavelmente.

Emily (Lily Collins) e Marcello (Eugenio Franceschini) em 'Emily em Paris'
Emily (Lily Collins) e Marcello (Eugenio Franceschini) em 'Emily em Paris' Imagem: Divulgação/Netflix

"Quanto maior o esforço mental, maior o desconforto", diz a pesquisa. Emily leva à sério. Nenhum sofrimento é profundo o suficiente para não arrumar o cabelo, se maquiar e colocar uma roupa caríssima —como aqueles casacos cabem naquela malinha? e aquelas botas?

Repensar as próprias atitudes, uma moda saudável dos tempos atuais? Só um pouco, enquanto enche uma taça de espumante e mais homens lindos a cortejam.

O pastelão é divertido. Os cenários são belíssimos. Dá vontade de ir para Paris a cada cinco minutos. Comer, beber, fumar e desprezar os outros como um parisiense. Será que é por isso que a gente continua vendo essa bobagem?

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(Peraí, Emily caiu esquiando, foi abandonada pelo namorado e surgiu um cara muito bonito italiano imediatamente para resgatá-la. Parece que o cara gato encheu ela de coragem para terminar o namoro assim que desceu a montanha. É isso mesmo, pessoal. Confirmado.)

Pensar dói, eu penso enquanto problematizo cenas condenáveis que bagunçam minha sororidade. Seria inveja de todas as vezes em que enfrentei o mundo sozinha, coisa que Emily nunca precisou fazer? Pode ser. Ué, mas o lance era deixar de pensar... falhei.

Li em um site que Emily vai para Roma com o italiano agora. O ex inglês também quer voltar com ela. E assim vai. Será que vai ter quinta temporada? Sigo aqui, porque pensar cansa. Ou porque não tenho respeito à minha inteligência mesmo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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