'Mania de Você': ver a relação tóxica de quem se ama é de deixar maluco
"Eles querem me deixar maluco", diz Mavi (Chay Suede) reclamando do relacionamento de Molina (Rodrigo Lombardi) com sua mãe, Mércia (Adriana Esteves), em "Mania de Você", novela das 21h da Globo. E é para enlouquecer mesmo.
O vilão, pai biológico do rapaz, é pouquíssimo confiável, já matou gente e parece disposto a dar o bote na mulher, que era governanta da casa, mas vive mesmo é em sua cama há décadas. Humilhações de todos os tipos estão no cardápio.
É bonita a cena: Mavi parece conformado que a mãe não pode ser melhor que aquilo que é. Mas, mesmo assim, busca traços de maternidade na mulher que nunca cuidou dele. Procura inclusive, chamá-la de mãe —Mércia escuta o vocativo intrigada. Existe, mesmo nas famílias mais desestruturadas, um profundo desejo de cuidado do filho com a mãe. "Ela fez o que era possível", o menino chora.
E tenta salvá-la: tirar a mulher daquela casa, fazer justiça, buscar alguma redenção. Mas, no dia seguinte, encontra a inesperada cena da vítima que não quer (na verdade, não consegue!) ser salva.
Mércia sabe que está errada, mas vê vantagens em ficar por ali. Teme inclusive pela própria vida, mas se despe e se entrega. O garoto que tenta ajudá-la não consegue entender as voltas que um relacionamento como esse pode dar.
Lógico que o exemplo é novelesco: parece que todos os personagens darão guinadas pouco louváveis e a trama dará nó na cabeça do público, que fica sem saber direito para quem torcer. Mas a situação é comum na vida de uma monte de gente cuja vida não está na novela das 21h. O que não falta são pessoas que já fizeram de tudo para proteger a mãe de violências e mágoas variadas.
É bonita a percepção de Mavi, que não pode exigir da progenitora o que ela é incapaz de dar. Na vida adulta, a gente precisa parar de esperar que os pais resolvam os nossos problemas, os financeiros inclusive. Mais do que isso: é importante parar de esperar que os pais resolvam os problemas que eles mesmos criaram para a gente com uma educação equivocada.
Ok, entendemos na maturidade, eles fizeram o que era possível e nos tornamos essas pessoas imperfeitas. Agora, é correr atrás do prejuízo e agir como um adulto também, procurando fazer o melhor para ser uma pessoa boa e resolvendo as lacunas na terapia. Pouco importa quem foi o culpado de sermos como somos. Importa o que faremos para melhorar.
Melhorar pode incluir desistir de salvar a mãe de um relacionamento do qual ela não quer ser salva. Ou entender que a exposição clara de tais defeitos no mais velho pode ajudar a escolher os atributos que não queremos copiar.
Sim, o comportamento dos nossos pais nos deixa "maluco" mesmo em muitas situações. E até dá para entender e acolher uma criança que, agredida em casa, reproduza esse comportamento agressivo com os colegas na escola. O que não dá é para passar a vida culpando os pais por aquilo que não nos esforçamos para ser. Perdoar os erros de quem não pode ser melhor e seguir em frente.
Terapia tem. Faz quem quer.
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