Estrela da Casa e outros fiascos: afinal, quem gosta de reality musical?
A Globo lançou um reality com expectativa de sucesso, o Estrela da Casa, e o resultado foi um naufrágio. Tirando a carismática Ana Clara, que responde pelo comando desse Titanic, o produto é mesmo para deixar bater no iceberg e afundar. Quem gosta desse tipo de programa?
A ideia, no papel, deveria ter seu charme: coloca um monte de cantor na casa do BBB e misturar intriga com melodia, como uma ópera midiática. Na prática, funcionou para derrubar a audiência —a Globo está apanhando do SBT no horário, como se fosse um duelo Faustão e Gugu revisitado em que sushi erótico nenhum salva a líder. Triste!
Não é algo novo: "Fama", apesar de ter alçado Thiaguinho à fama no começo do século, não bombou. Era meio ridicularizado na época —lembro de um episódio em que eu estava lavando louça em uma casa de praia e cantando com todos os meus desafinados enquanto um amigo cantor dizia que parecia o programa da Globo. Não sei quem ele queria ofender: eu ou os participantes do reality. Na dúvida, ofendeu todo mundo.
The Voice também não foi um exemplo na hora de tornar cantores promissores um sucesso. Era legal ver as crianças cantando, mas na versão adulta o lance eram os famosos virando cadeira. Aliás, famosos bombam realities. Anônimos, bem, não muito.
Foi necessário uma famosa internacional para viralizar o Estrela da Casa. A presença de Katy Perry foi mais falada que qualquer performance dos artistas confinados. Aliás, confinar gente uma hora dessa, em 2024, depois de tudo o que passamos na pandemia? Joga essa galera num parque aberto e deixa lá cantando. Ninguém aguenta mais ver pessoas vocalizando enquanto tomam um iogurte e o outro jogando no lixo a sujeira acumulada no ralinho de pia. Que coisa mais chata.
Ana Clara não tem culpa de nada, o problema é que a gente não quer morar com artista. Eles só falam da própria arte, eles só pensam em si, eles acham que são muito importantes. Por que o pessoal vai ligar a TV e colocar essa galera na sala da casa da gente?
Nada contra os artistas, tenho inclusive amigos que são, mas gosto mesmo de vê-los no palco. Discussão de repertório, passagem de som e discordâncias gerais acerca da criação coletiva? Deus me livre, eu passo. Já foi meu tempo de ter paciência com sobreposição de ego.
Por isso, talvez faça sentido que o grande transatlântico rume para a colisão seguida de submersão de audiência. Enquanto isso, tem gente que toca violino, digo, faz nebulização para melhorar a voz, digo, entoa um lalalá e todo mundo em volta diz "está lindo isso".
No meu tempo, a gente ensaiava em casa e eu achava que era por vergonha que os outros vissem o produto não finalizado. Hoje percebo: a gente não expunha o processo criativo por respeito ao público mesmo. Eu, hein.
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