Fim do circo das eleições e das besteiras: com o que você vai se entreter?
Neste domingo (27), quando a última urna se fechar, o brasileiro estranhamente se unirá —apesar de desejar geralmente o resultado oposto que o pessoal com quem divide o elevador do condomínio.
Todo mundo neste fim de tarde vai querer saber quem venceu a eleição, vai ver o William Bonner abrir aquela latinha de água (e se justificar) e vai entender tudo a partir das sacadas rápidas de Renata Lo Prete.
Nesses tempos em que o entretenimento online individual se confunde com o que todo mundo está falando, não dá para saber muito bem o que se quer realmente ver. Você realmente se interessa por política agora ou só está falando (besteira) sobre o assunto porque todo mundo gosta de conversar disso na internet?
A gente parece ter esquecido como eleger os temas favoritos de conversa, o que gosta de ver na TV, quais locutores de rádio ouvimos a voz como quem escuta um grande amigo? Hoje, tudo o que consumimos é ditado por um algoritmo. Aí confunde mesmo: por isso, é comum ver gente que milita contra violência aplaudir cadeirada. Uma confusão danada.
Esse "não sei muito bem o que faz sentido" joga a gente e o pessoal do elevador para consumir o que não se ensinaria na escola em outros tempos. O resultado você sabe.
A gente deixa a conversa rasa para dar conta dela. Quem discorda é reprovado. A argumentação fica na superfície. Pesquisar um assunto para falar dele? Ninguém dá conta. Que tristeza, rapaz do céu.
Até propaganda emburrece (mais)
Meu irmão estava espantado outro dia com o uso de jogos online no metrô. "O jogo de um senhor parou, entrou a propaganda de outro jogo que simulava a tela em movimento, como se ele também tivesse jogando, mas ele não estava fazendo nada", ele me dizia, perplexo com a apatia.
Não é muito diferente dos tempos de TV aberta, em que recebíamos forçosamente as propagandas nos intervalos, vai me dizer o leitor. Será?
Lendo as reportagens sobre a morte de Washington Olivetto, me peguei pensando nas ideias geniais de hoje em dia —pessoal está com dificuldade de dar dois passos no trabalho sem perguntar para o ChatGPT o que fazer.
Nas décadas passadas, até a passividade de assistir o comercial fazia pensar um pouquinho, da nostalgia do primeiro sutiã ou o tempo passar e voar, mas a poupança continuava preservando o valor do seu dinheiro.
O que estaria pensando o senhor no metrô que joga algo eletrônico e é interrompido pelo vídeo não solicitado de outro game? Arrisco dizer que nada.
A gente tem visto estudos sobre tirar o celular da mão da moçada nas escolas. Os colégios de países evoluídos já baniram o aparelhinho, enquanto me finjo de culta fazendo que sim com a cabeça, mas não desgrudo dessa caixinha de luz.
O silêncio pós-eleição pode servir como inspiração para voltarmos ao entretenimento que faz pensar? Pode doer um pouco no começo, mas já imaginou que delícia seria mergulhar em um livro outra vez?
O vazio das conversas nesta pasmaceira política que se dará até a posse dos eleitos desta noite pode ser abrigo para o novo. Que documentário a gente vai ver em família e discutir junto depois? Dá para ler quem pensa diferente, sem xingar nos comentários abaixo do texto?
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Quero receberA empreitada pode até render assunto em comum com a galera que mora aí no seu prédio. Pode ser um bom fim de outubro e começo do resto de nossas vidas. Quem sabe?
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