Podcast de Fernanda Lima é o abraço que toda mulher de mais de 40 precisa
Se tem uma unanimidade nacional é essa: Fernanda Lima é perfeita. O adjetivo pode ser repetido à exaustão e não só (mas também) fisicamente, mas no trabalho, na apresentação de programas, na escolha de marido, na alimentação, na educação de filhos.
Pois foi com entusiasmo e surpresa que comecei, por indicação da arquiteta Karen Pisacane, a ouvir o podcast Zen Vergonha, feito por ela para falar de um assunto que anda sombreando as conversas com minha amigas nos últimos tempos: a menopausa. E ali, surpresa: descobri que Fernanda Lima confessa, "sem vergonha" nenhuma, que está longe de ser perfeita. Ela é tipo a gente. E está, como nós, tentando entender para onde ir depois daqui. Eu chamo de crise dos 40, mas ela dá os nomes científicos corretos. E isso nos acolhe de um jeito...
Karen, minha amiga, me puxou de canto na sala dos nossos filhos no meio da Mostra Cultural da escola. "Ouve isso. Explica o cansaço, a exaustão, tudo", ela disse, enquanto eu anotava a dica como quem escreve um segredo no diário. Quer dizer que não estou só cansada porque tenho mil empregos e todos eles me demandam em três turnos? "Parece que não, amiga. Também não é porque você tem 600 mensagens não lidas no WhatsApp. Tem mais coisa por trás disso", ela falou. Uia.
Fernanda Lima foi certeira. Resolveu falar do segredo em voz alta. Criou um podcast sobre isso. Chamou tudo que é atriz famosa para falar também. Seguinte, gente: agora a galera vai ficar sabendo que menopausa existe, que é um desastre, mas que a gente sobrevive. Nossa, e pode dizer isso sem cochichar? Pode. A Fernanda Lima liberou. Graças a Deus!
No primeiro episódio, ela narra os calorões. Diz que teve confusão mental, irritabilidade. Confessa que tentou falar com o marido —"sim, o homão da porra", ela diz— e ele, em vez de acolher, disse que ela não passaria por isso. Quase uma reinvenção do "mulher minha não faz essas coisas", na releitura gentil de Rodrigo Hilbert, como se a perfeição de Fernanda e sua vida saudavelmente regrada fosse a premiar com a ausência de sintomas do climatério. Ele estava errado. Ela teve isso. Ela teve muito isso, como a imensa maioria das mulheres de 40 e poucos anos. Pois é.
Fernanda diz preferir lixar a unha do pé que transar (já falei que ela é casada com Rodrigo Hilbert?). Bom, se a libido dessa mulher acabou, está ok você não pensar em sexo também, né?
Minha amiga Karen é maratonista. Quando eu estou fazendo a lancheira do meu filho em uma quinta-feira ordinária, às 8h, ela já correu 30 km. É a pessoa com mais disposição que conheço. Mas ela também está cansada. Está todo mundo estranhando a si mesma no espelho. E correndo para dar conta de outras coisas. Como que respeita nosso tempo?
Saio da academia (o episódio 6 praticamente ordena que se faça musculação todo dia, mas vou quaaaaase três vezes por semana) pensando na minha mãe. Que injusto que as mulheres passem por isso justamente quando seus filhos estão na adolescência, enlouquecidos de hormônios também. "Como a gente dá conta de ser legal enquanto sua tanto?", eu entrei no carro pensando. E liguei o ar condicionado. Minha geração entra na menopausa plugada no aquecimento global. É muita coisa.
Porém, estamos falando sobre isso. Maria Ribeiro elogia a iniciativa dizendo que é um privilégio sermos contemporâneas de perimenopausa com Fernanda. Mesmo eu, que ainda, talvez, nem tenha chegado aí ainda, já estou ligada na sutileza de alguns sinais. E estou junto com outras mulheres porque não é mais segredo. Vamos dividir o leque, como disse Zélia Duncan. Nossa, que alívio.
O abraço de Fernanda em sete deliciosos episódios é um presente. Fernanda, para variar, perfeita, abrindo o jogo sobre o que chamam por aí de imperfeição. Vamos indo, vamos juntas. Liga esse ventilador, come umas frutas saudáveis. Não tem nada de errado nisso, pois é bem assim para (quase) todo mundo. "Ninguém pode se aposentar da vida antes de a vida acabar", como disse Elisa Lucinda. Bora.
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