Rodrigo Hilbert e a geração de homens que tenta não parecer o próprio pai
"Meu pai nunca fez nada em casa. Minha mãe foi abusada psicologicamente por ele a vida toda. Eu nunca recebi um abraço do meu pai, um carinho". O depoimento forte é de Rodrigo Hilbert no podcast Zen Vergonha, idealizado por sua mulher, Fernanda Lima.
A segunda temporada, que ela chamou de Homem Pausa, descreve justamente as tentativas de desconstruir a masculinidade hoje. Como fazer, eles andam se perguntando, para serem homens melhores?
A geração anterior à de Rodrigo Hibert, que hoje tem 44 anos, realmente não estava antenada nisso. É só puxar pela memória dos anos 1980 e 1990, e a maioria mal vai se lembrar da imagem do pai tirando o prato da mesa e colocando na pia.
Lembro claramente de mães de amigos servindo o prato do marido, fazendo arroz antes de ir trabalhar, passando as camisas deles, buscando mais uma cerveja para o homem que via futebol no sofá. Sim, não existem pessoas amarelo ovo, como Homer Simpson, mas todo o resto do estereótipo não é inventado, não.
"Só descobri que meu pai sabia chutar uma bola quando o vi um dia no quintal com o neto, tentando agradar", me disse um amigo chateado por nunca ter tido a oportunidade de jogar futebol com o pai. Outros entram na lista: estão bebendo menos na sexta à noite para religiosamente bater uma bolinha com a criança no sábado de manhã.
Sabe aquele negócio da geração seguinte contrariar a anterior? Pois é: os millennials criados à base de ausência paterna não querem para os filhos a infância e juventude que tiveram com (sem) o pai que, ou estava fora, provendo o sustento, ou estava em casa, bebendo pra esquecer o resto. Triste mesmo.
O estereótipo Rodrigo Hilbert, do cara que cozinha, existe e é até um pouco mais fácil de achar. Mas também tem o que lava a roupa, pendura, dá aquela varrida na casa, busca o filho na escola, corta a unha, checa se limpou a orelha, manda dormir.
"Ah, mas onde estão esses caras?", vai perguntar a leitora. Por aí, cuidando dos próprios filhos melhor do que foram cuidados. Tentando ressignificar a masculinidade que aprenderam a exercer —e que tanto os machucou.
Dá para mudar e ser melhor. Sempre. O exemplo de como não queremos ser pode estar em nossos álbuns de família.
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