Luciana Bugni

Luciana Bugni

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Separação de Fernanda Paes Leme mostra que o fim pode ser começo de algo

A carta de Fernanda Paes Leme em que anuncia o divórcio de Victor Moura é serena de tal forma que até a notícia triste —um casal se separando com uma filha de oito meses— parece amena.

Ela diz que refletiu muito, e ele fez homenagens bonitas em um texto no Instagram. Ambos comentaram que fizeram uma viagem de despedida e se comprometeram a cuidar de Pilar juntos, como os bons pais que se propõem a ser. Eles fizeram, imagine só, uma viagem para o lugar onde se apaixonaram para sedimentar o fato de que aquele amor havia virado uma amizade.

Que coisa bonita.

Outro dia, na mesa de bar, com 10 pessoas, contamos que oito eram divorciados. Um deles nunca havia se casado e o outro estava no primeiro casamento. Por mais indesejado que seja cogitar a separação, ela acontece mesmo. Há um trecho do texto de Fernanda que diz que ela não poderia viver sem verdade consigo mesma pela própria Pilar.

Parece que quando a gente tem filho recebe uma sentença de que vai traumatizar alguém —e passa a vida tentando evitar isso. Tenho diversos amigos adultos que falam sobre como foi e é até hoje viver com os pais sustentando casamentos que acabaram há muitos anos por conta do ideal de família.

Se eles pudessem voltar à infância, diriam para si mesmos (ou para os pais) que o melhor era a separação. Mas em volta tem muita gente apontando o dedo para os divorciados acusando de tentar pouco, desistir fácil, ir pelo caminho mais fácil. Mais fácil? O divórcio é dificílimo! Fácil mesmo é ser infeliz a vida inteira acusando o outro da própria sina.

Separar é ok, apesar de complexo. Novos núcleos familiares se formam e, se organizar direitinho, todo mundo é feliz.

Não estou dizendo que lidar com a ruptura é fácil. É um acumulado que parece insuportável de dor porque, por alguma razão, a gente projeta as coisas para serem eternas. A poesia tenta explicar de várias formas (o amor não é imortal, já que é uma chama), mas a gente não entende muito bem e acha que só há segurança no para sempre.

Há muitas transformações possíveis em relações. A vala da amizade em que dizem ter caído Fepa e Victor não é uma vala, é um sofá confortável em que a gente pode conversar com o outro sobre os nossos filhos, sobre o nosso passado e sobre o eterno se transformar em outra coisa. Para isso, é preciso aceitar o novo com alegria. Casais que vivem juntos e felizes há décadas convivem com várias versões do par ao longo dos anos e aprendem a gostar de cada uma delas. Por que deveria ser diferente com o ex, especialmente quando esse ex é pai de seu filho?

Continua após a publicidade

Eu gostaria que todo mundo conseguisse sublimar o fim das relações e o tsunami de sentimentos negativos como ciúme, raiva, culpa e frustração para transformar, com diálogo, em outra coisa. Família, essa palavra gasta, tem muito mais significado do que a igreja nos fez acreditar. O amor transmuta.

Felicidades, também, aos ex-casais. As crianças agradecem.

Você pode discordar de mim no Instagram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

18 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Ricardo Balistiero

Nossa, que lindo (contém ironia)...o mundo pegando fogo e gente se preocupando com a vida dessas sub celebridades, que não pensam em outra coisa que não a bufunfa....

Denunciar

Lemilson Almeida

Quanta beleza fútil. Quanta sororidade emocionante. Muitas lições lindas. Kkkk

Denunciar

Luiz Fernando Pizzo

As pessoas se tornaram egoístas. Acham que casamento é o poço das lamentações de duas próprias futilidades existenciais.  Largam a acreditam que o problema está no próximo quando elas mesmas são a sina.  De 10, 8 divorciados? Que clube da derrota é esse? Imagine que papo mais deprimente de gente frustrada com os augúrios ocorridos.  Agradeça pela vida, engula as mágoas e bola adiante. Ver os tombos alheios só nos desmotivam. 

Denunciar