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Criador da trilha de 'Pantanal' brinca: 'Todos iam nadar pelados, menos eu'
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Ele é o pai de uma das trilhas mais emblemáticas já feitas para uma novela. O compositor e multi-instrumentista Marcus Viana conseguiu traduzir, através da música, o DNA de "Pantanal" (1990), exibida na extinta TV Manchete. É dele toda a trilha instrumental desse enorme sucesso, bem como a antológica abertura - batizada com o nome da novela - e o tema de amor de Juma (Cristiana Oliveira) e Jove (Marcos Winter), protagonistas da trama do autor Benedito Ruy Barbosa, dirigida por Jayme Monjardim. Com o frisson causando pelo remake da história, com previsão de estreia para 2022, na Globo, Viana relembra a época e conta que fez sozinho todas as músicas da saga pantaneira.
"A gente não imaginava a repercussão que a novela daria. A audiência chegou a 45 pontos, deixando a Globo em polvorosa. A obra era mais que uma ode ao Pantanal, ela falava do ser humano e seus dramas, paixões imersos na onipotência da natureza. Tentei traduzir isso na trilha. E o fato de eu tocar instrumentos de corda, ajudou a fazê-la bem diferente da música do dia a dia da novela, que era com a viola. Justamente por isso, eu acabei fazendo toda a orquestra, toquei uns 15 violinos diferentes, violoncelos... Tocava tudo", conta Viana, de 67 anos.
O curioso é saber que a música "Pantanal", tão emblemática, tocada pelo compositor até hoje em seus shows, foi feita sem grandes aspirações.
"Não tive uma encomenda para música de abertura. Um dia, Jayme me disse que estavam tendo dificuldade em encontrá-la. Então, fiz e mandei para ele com a minha voz. Minha intenção era, se aprovada, chamar Milton Nascimento para cantar. Vinte dias se passaram e nada de eu ter o retorno. Até que liguei para Jayme, a secretaria atendeu e me disse que a música já tinha entrado", relembra Viana: "Tentei argumentar com Jayme que queria dar uma roupagem melhor, que era apenas uma demo. Mas ele a quis daquele jeito mesmo."
Para ajudá-lo a se inspirar, a equipe de produção mandava para o compositor fitas VHS de cenas captadas na região:
"Isso foi muito doido (risos). Todo mundo ia pro Pantanal nadar pelado, menos eu. Eles me mandavam as fitas e eu via: Pantanal de chalana, avião, vida na fazenda... Cheguei a ver 47 VHS! Ficava compondo assistindo a isso."
A novela trouxe muitos frutos para Viana. A começar pela longa e vitoriosa parceria com Monjardim.
"'Pantanal' é um divisor de águas na minha vida. Tudo começou ali. Ganhei prestígio. Ainda na Manchete fizemos juntos 'Ana Raio e Zé Trovão'. E quando ele entrou na Globo, fui junto. Fizemos 'Chiquinha Gonzaga' (1999), 'Terra Nostra' (1999), 'Aquarela do Brasil' (2000), 'O Clone' (2001), 'A Casa das Sete Mulheres' (2003). Fomos juntos até 'América' (2005). Foram 15 anos fazendo as maiores produções da teledramaturgia desse país", orgulha-se.
Apesar de ter deixado sua marca, o mineiro acha difícil sua trilha ser aproveitada na releitura.
"Ninguém da Globo me procurou. Há milhões de profissionais na emissora para fazer (a trilha). Também acho que já que é um remake tem que ter o novo. Não acredito que queiram repetir essa música (da aberta da novela) inclusive. É um desafio muito grande, um mundo completamente novo. Agora, a música tem um poder impressionante. Temos que lembrar o seguinte: quem viu a novela aos 15 anos, está com 45, quem tinha 30, agora, está com 60. E o povo novo não viu e é essa galera que vai fazer dar certo ou não. E, de repente, uma outra trilha pode não falar para os antigos, mas para o cara novo vai ser incrível", pondera.
A magia da música de "Pantanal" passa muito pelo que o músico chama de 'unidade monotemática', misturando o tema principal, o da abertura, com todo o incidental.
"A trilha não era muito dividida. A abertura era conectada com a novela toda, tocava o tempo inteiro. Se, agora, o pessoal tiver essa visão, pode ser que consiga trazer o espírito que vai hipnotizar o povo", acredita o compositor, que diz não ter ciúme ao ver os temas sendo refeitos: "Não penso assim. Tenho é curiosidade em saber como vai ficar."
Atualmente, e muito pela pandemia, Viana vem se dedicando à "música para curar pessoas".
"Criei trilhas sonoras espirituais, muita coisa new age, para meditação...Fiz música para o Jayme usar na série inédita 'O Anjo de Hamburgo'. E parei com TV muito porque a pandemia parou com tudo. E estou usando a música para curar os outros. Criei um projeto no Youtube e no Instagram: todos os dias, às 18, posto uma música... Eu chamo de farmácia de música", conta Viana, avisando que não fechou portas para outras produções. "De jeito nenhum. Fico muito animado com novos projetos."
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