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Marcelle Carvalho

REPORTAGEM

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'Nos Tempos do Imperador': autores festejam estreia com um ano de atraso

Dom Pedro II (Selton Mello) em Nos Tempos do Imperador (Divulgação/Globo) - Divulgação/Globo
Dom Pedro II (Selton Mello) em Nos Tempos do Imperador (Divulgação/Globo) Imagem: Divulgação/Globo

Colunista do UOL

03/08/2021 04h31

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Email inválido

A gente quase pode sentir a respiração de alívio de Alessandro Marson e Thereza Falcão. Autores de "Nos Tempos do Imperador", eles ficaram mais de um ano na expectativa de ver a trama ser exibida. Além de continuarem a escrever sem nenhuma perspectiva de quando as gravações seriam retomadas por conta da pandemia. Pois bem, no próximo dia 9, os dois, juntamente com toda equipe envolvida nessa grande produção, finalmente, poderão ver a obra inédita tomar seu curso natural.

A novela ir para o ar agora é um fôlego. Dá um pouco a sensação de que as coisas vão voltar ao normal", analisa Thereza.

Foi o melhor sentimento possível, foi como ter uma sinopse aprovada! A sensação é mais ou menos essa, quando a gente recebe aquele email de que a novela vai rolar", comemora Marson.

novela das 18h - João Miguel Junior/Divulgação/Rede Globo - João Miguel Junior/Divulgação/Rede Globo
Pilar (Gabriela Medvedovski), Jorge/Samuel (Michel Gomes), Luisa Condessa de Barral (Mariana Ximenes), Dom Pedro 2º (Selton Mello) e Teresa Cristina (Letícia Sabatella): elenco principal de 'Nos Tempos do Imperador'
Imagem: João Miguel Junior/Divulgação/Rede Globo

Os autores tiveram que navegar por mares nunca dantes navegados. Estavam sem bússola, sem saber como ultrapassar essa tormenta. Sabiam apenas que era preciso continuar a travessia.

Nossa maior preocupação foi continuar escrevendo. Foi um choque ficar sem saber até quando iríamos escrever, sem saber quando lançaríamos. Esse foi o pior momento, mas nunca paramos de escrever", conta a autora.

Até porque, noveleiros, imagine dar uma pausa de sei lá quanto tempo e depois eles terem que retomar a história frios, sem a emoção do capítulo a capítulo saindo do forno diariamente?

Quando a gente se tocou que essa pandemia podia durar um tempo maior, a gente falou: 'Vamos escrever a novela até o final'. Uma vez que a gente começa o processo de escrever, é pouco produtivo parar e depois retomar. Seria muito difícil parar, por exemplo, no capítulo 80 e, daí a seis meses, voltar para o 81 como se nada tivesse acontecido. Não dava para fazer isso, continuamos trabalhando sem parar", completa Marson.

Reprise na mesma linha

A reexibição de "Novo Mundo", em março do ano passado, portanto, veio bem a calhar na época. Apesar de ter ido ao ar há apenas três anos, a novela, também escrita por Thereza e Marson, poderia ser um esquenta para "Nos Tempos do Imperador", já que é a continuação dessa história. Mas não foi bem isso que aconteceu.

Não se sabia quanto tempo ela ficaria no ar, se dois, três meses, ou se passaria a novela inteira. Quando foi chegando perto do final de 'Novo Mundo' - e a novela passou inteira - foi anunciada uma nova reprise. Foram três reprises, e um ano e meio se passou", recorda o autor.

E mudanças, minha gente, inevitavelmente aconteceram durante o processo da escrita da dupla. Thereza conta que há um Cassino na história e ele não vai poder bombar de jeito nenhum. Já Marson diz que tiveram que modificar todo o planejamento da Guerra do Paraguai:

A gente achava que a Guerra do Paraguai duraria uns dois meses, mas fomos colocando essas cenas para as últimas três, quatro semanas da obra. A guerra estará acontecendo desde o capítulo 100, mais ou menos, mas a gente vê essas cenas mesmo a partir do cento e trinta e poucos. Avaliamos que seria mais prudente deixar mais para frente. É inevitável: numa cena de guerra, a gente precisa de pessoas. Enxugamos esse período, mas conseguimos fazê-la e isso é um ganho. Ficamos bem satisfeitos com a forma como conseguimos mantê-la, pois ela tem grande importância na história, não é algo pontual."

Resgate da cultura africana

É bom a gente ficar de olho em um dos cenários importantes na novela: a Pequena África. Mais do que mostrar a imagem do negro escravizado, é relatar a imensa diversidade da cultura negra nesse período. Sim, porque essa região existiu de verdade e hoje é uma área composta pelos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, desde a Praça Mauá até a Cidade Nova, na região portuária do Rio de Janeiro.

Foi um reduto muito grande desses negros libertos e fugitivos que conseguiam se misturar aos outros. Havia quilombos ali, interceptação de negros fugidos para outros quilombos próximos ao Rio de Janeiro. A grande importância é a convivência de todos, porque havia negros de vários locais da África. E esse encontro era algo muito poderoso para se tentar manter uma identidade, no momento em que tudo o que não se queria era uma identidade negra", relata a autora.

novela das 18h - Victor Pollak/Divulgação/Rede Globo - Victor Pollak/Divulgação/Rede Globo
Alan Rocha e Mary Sheila são Baltazar e Abena moram na Pequena África em 'Nos Tempos do Imperador':
Imagem: Victor Pollak/Divulgação/Rede Globo

Dar ênfase a esse núcleo é algo que chama atenção na história. Porque vai além do que estamos acostumados a ver nas novelas em que se tenta retratar o período da escravidão no país.

As discussões são grandes nesse sentido, extremamente válidas e necessárias na atualidade. O papel da Pequena África dentro dessa novela é mostrar esse reduto, de pessoas livres e cúmplices entre si. Sempre se falou dos escravizados em novelas, mas nunca se falou desse núcleo que começa a acontecer, que é liberto, conquistou sua liberdade, ganhou sua alforria, são pessoas livres", constata Thereza.

A importância dos ideais

Com tanta expectativa envolvendo "Nos Tempos do Imperador", o que nós, noveleiros, vamos ver nessa trama?

É uma história de ideais, superação, reconhecimento, da procura pelo seu lugar no mundo. Existe toda uma sociedade que é contra aquelas pessoas e elas estão lutando para se afirmarem, lutando pelos seus ideais. Acho que todos esses sentimentos, o amor e o idealismo, são inerentes ao ser humano. E falam com todas as línguas. Trazemos muito a reflexão sobre o quanto a escolha de uma pessoa atinge a todos", afirma Thereza.

Marson faz questão de ressaltar a figura de Dom Pedro 2º (Selton Mello):

A novela fala de conquistas, batalhas, vitórias, derrotas, escolhas e sacrifícios. A figura de Dom Pedro 2º é emblemática da política construtiva e mostra que é possível fazer um governo que pense no coletivo, que use essa posição de poder para fazer coisas positivas."