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'Nos Tempos do Imperador': Letícia Sabatella e a imperatriz quase 'apagada'
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Chegou o grande dia, minha gente! "Nos Tempos do Imperador" estreia nesta segunda-feira (9), abrindo a sequência de novelas 100% inéditas da TV Globo desde o início da pandemia. Dessa vez, vamos viajar para um Brasil sob o reinado de Dom Pedro 2º (Selton Mello). Claro que os noveleiros de plantão estão ansiosos para saber o que o monarca e os demais personagens vão contar sobre esta época.
Letícia Sabatella personifica a Imperatriz Teresa Cristina, mulher de Dom Pedro 2º, figura importante na construção desse Brasil, porém, quase apagada da história.
Não conhecia muito sobre ela, pouco se fala de Teresa Cristina em livros de história. Ela foi responsável também pela solidez do reinado de Dom Pedro, teve muita função diplomática nesse sentido, de conter e manter o reinado da família imperial com a estima necessária. Teresa foi uma super companheira do marido. Em todas as viagens que fez, ela era a interlocutora, sempre junto com ele. Foi uma grande imperatriz, parceira, amiga, apaixonada e amorosa com Dom Pedro", afirma a atriz.
Só por essa descrição, fica fácil ter de cara uma empatia por essa mulher, não é mesmo?
Para entender um pouco da personagem, Letícia teve que ir à luta, já que não se tem material abundante sobre a terceira e última imperatriz do Brasil. A artista leu "Teresa Cristina Bourbon. Uma Imperatriz Napolitana nos Trópicos. 1843-1889" (Aniello Angelo Avella), conversou com a pesquisadora e escritora napolitana Antonella Roscilli, além de ter acesso a documentos e cartas da nobre, que saiu de Nápoles casada por procuração com Dom Pedro 2º, para uma terra que ela aprendeu a amar tanto quanto seu marido.
Fui conhecendo algumas coisas que me deram um pouco do caráter dela. Através das músicas que apreciava cantar (exímia cantora lírica), dos trabalhos que gostava de fazer, como a arqueologia. Ela ajudou a preservar os sítios arqueológicos em Pompeia, Herculano e Veio (cidades próximas a Nápoles, no sul da Itália). Se Nápoles tem um museu de peças indígenas é graças a ela, que enviava peças para lá. E também trouxe para o Brasil e fez o maior acervo de peças mediterrâneas clássicas que a gente tinha."
O passado na voz de Letícia é devido à perda de alguns artefatos no incêndio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, em 2018. Lá estava a coleção de Arqueologia Clássica, que era a coleção greco-romana mais importante da América do Sul. Ano passado, os pesquisadores do museu conseguiram resgatar alguma peças.
Traição bem à vista
Mulher de fibra, caridosa e extremamente religiosa, Teresa Cristina comprou a alforria de diversos escravos e os libertava em praça pública. Também ajudou a proteger anarquistas fugidos da Itália para o Brasil. Apesar da sintonia com o imperador em diversos aspectos, a vida conjugal de Teresa Cristina não era a das mais felizes.
Na trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão, a gente vai ver Pedro apaixonado por Luísa, a Condessa de Barral (Mariana Ximenes). A bela era a preceptora das filhas dos monarcas, então, Teresa conviveu com a traição bem debaixo de seus olhos.
É uma situação trágica. Porque não existia uma possibilidade de se desfazer, de se mudar. Pedro teve várias amantes, mas casamento era para vida inteira. É mais uma história de uma união clássica dentro do patriarcado. Não deveria ter sido fácil sair de sua terra natal, ir para um reino desconhecido assumir uma missão de tanta responsabilidade, e ainda lidar com as agruras do relacionamento", analisa Letícia.
Mas eu procurei respeitar muito a sensibilidade e a humanidade de uma pessoa que passasse por isso. De ter que enfrentar a dificuldade de estabelecer e manter um relacionamento familiar com a presença de uma amante ou várias. A gente tem momentos de conflito na novela por conta disso. Na verdade, essa situação gera sempre uma discussão: se a monogamia dá conta ou se é uma hipocrisia dos nossos desejos, das nossas descobertas humanas e amorosas. Acho que isso é uma questão até hoje."
O canto da Imperatriz
Não sei se eu daria conta de tanto perrengue amoroso. Está certo que Teresa Cristina só percebeu já casada e no Brasil. Porque ainda como a prometida de Pedro, o casal se correspondia por cartas em francês ou italiano. Mais do que isso, o que chama a atenção de Letícia é o amor que Teresa Cristina teve pelo Brasil.
Vejo pelas cartas a maneira carinhosa que se tratavam, que tinham uma relação muito afetuosa, de muita confiança, respeito e amizade também. É legal saber sobre essa mulher que a história não contou tão bem. O mais interessante dela é sua paixão pelo Brasil. A Leopoldina (imperatriz, mulher de Dom Pedro 1º e mãe de Dom Pedro 2º) é uma figura muito importante, uma estadista, mas nunca ficou a vontade no Brasil, sempre sofria. A Teresa Cristina não, ela se apaixonou pelo Brasil, clima, pelas pessoas...", conta a artista.
Não só de livros, minha gente, se baseou as pesquisas da atriz. Como a imperatriz soltava a voz, Letícia, uma cantora para ninguém botar defeito (lembram de "Popstar"?) voltou ao estudo do canto lírico.
Tive aula com a professora Mirna Rubim e foi muito bom. Tem sido um diferencial retomar isso. Além do mais, o que se conta é que Dom Pedro ficou realmente mais encantado pela mulher quando a ouviu cantar."
Ausência de governante responsável
Se a gente que tem paixão por novelas já estava doido por uma trama inédita, imagina Letícia e companhia que estão há um ano e meio nessa expectativa paralisação-retomada das gravações-estreia? Haja tranquilidade para a tanta incerteza, né? Mas a volta ao trabalho foi o que, para atriz, "segurou muito a questão da dificuldade da pandemia."
A retomada aconteceu de forma gradativa. Foi respeitado a nossa capacidade de lidar com os protocolos, com a forma de fazer as cenas com qualidade. Um aprendizado muito grande, com muita responsabilidade, o que fez com que a gente se sentisse seguro para enfrentar os desafios. A situação mais difícil estava justamente fora, sem o apoio das nossas autoridades governamentais (com exceção de alguns governadores), do nosso Presidente da República, a dificuldade das informações", constata Letícia.
"Nos Tempos do Imperador" pretende mostrar a preocupação de Dom Pedro 2º com o país e seu povo. Será que dá para imaginar como ele se sentiria vendo a política que temos aqui hoje?
Dom Pedro é conhecido por ter sido mesmo um estadista, que olhava para o Brasil e sua população. Tinha projeto político para o país. A gente sente falta, principalmente, nesse momento da pandemia de uma figura assim. Acho que Dom Pedro traz esse respeito. A novela está falando de alguém que é responsável pelo seu povo. Com certeza, isso vai tocar muito em carências nossas atuais", analisa a artista.
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