Topo

Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'A Fazenda 13': caso Borel-Dayane faz refletir sobre rumo dos reality shows

 Nego do Borel e Dayane dividem momento carinhoso na piscina após suspeita de abuso em "A Fazenda 13"   - Grupo CARAS
Nego do Borel e Dayane dividem momento carinhoso na piscina após suspeita de abuso em 'A Fazenda 13' Imagem: Grupo CARAS

Colunista do UOL

26/09/2021 06h24Atualizada em 26/09/2021 10h36

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Há anos, os reality shows se consolidaram como um dos gêneros mais assistidos, trazendo muita audiência e consequente interesse de patrocinadores. O formato de um 'show', realizado em uma casa, com dezenas de pessoas vigiadas 24h por dia, teve seu primeiro grande sucesso com "A Casa dos Artistas", no SBT (2001). O fenômeno foi tão importante que emissoras, desde então, viram um grande filão a ser explorado e monetizado. Logo depois veio o "Big Brother Brasil" (2002) e até hoje os realities mobilizam milhões de pessoas na audiência, torcida e votação pelos seus eleitos.

A questão é que esse tipo de programa já está no ar no Brasil há mais de 20 anos. E, em função de todo esse tempo, emissoras e participantes tentam fugir da repetição e fórmula desgastada utilizando subterfúgios cada vez mais questionáveis. A linha tênue que separa o entretenimento da apelação vem sendo cruzada. Isso normalmente ocorre nas festas sempre regadas a muita bebida, o que acaba estimulando comportamentos por vezes condenáveis. Sem querer ser fiscal da conduta alheia, o que se vê são os confinados passando do ponto e tendo atitudes que, geralmente, causam arrependimento no dia seguinte.

O que aconteceu na madrugada de ontem envolvendo Nego do Borel e Dayane Mello, em "A Fazenda 13" — o cantor foi expulso do programa e está sendo investigado por estupro de vulnerável contra a modelo é mais um triste capítulo entre tantos outros que já ocorreram neste tipo de atração. E o pano de fundo desse acontecimento que hoje é um dos mais falados no noticiário, foi o pós-festa, em que o álcool alterou a consciência da maior parte dos confinados.

Este é justamente o cenário que grande parte da audiência acaba querendo ver. É óbvio que pessoas confinadas com atitudes corriqueiras não vão despertar o interesse do público. Mas os barracos, discussões e brigas cada vez mais constantes não podem se tornar a norma nas festas, e mesmo fora delas. Baixaria, dissimulação ou até mesmo o jogo sujo em busca do grande prêmio, traz o ponto a ser questionado: vale mesmo tudo pela audiência? Tudo bem transmitir comportamentos que são condenáveis fora do programa? E em casos limites até mesmo situações que acabam se tornando investigação criminal ou processo na justiça?

Não podemos perder de vista que estamos falando de programas que são exibidos na TV aberta e, por consequência, têm maior penetração nos lares do país. Ah, e não esqueçamos também que as emissoras se utilizam de suas plataformas de streaming e canais exclusivos para oferecer transmissão 24 horas, o que na prática é dar a opção de acompanhar ainda mais fundo o desenrolar dos imbróglios.

O grave ocorrido entre Borel e Dayane é mais uma oportunidade entre tantas outras para refletirmos sobre os rumos que os realities vêm tomando a cada ano. É necessário questionar o papel de todos: as emissoras, os patrocinadores, os participantes e, como não poderia deixar de ser, a audiência. As atitudes e omissões de cada uma dessas partes têm importância no que acontece na casa. Para o bem e para o mal. Talvez algo precise mudar, porque do jeito que a coisa vai, é provável que essa não seja a última vez que vejamos um episódio tão desprezível.