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Marcelle Carvalho

REPORTAGEM

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'O Clone': 'Fui pra Rússia e era reconhecida na rua', diz Letícia Sabatella

Letícia Sabatella é Latiffa em "O Clone" - João Miguel Junior/Divulgação/TV Globo
Letícia Sabatella é Latiffa em 'O Clone' Imagem: João Miguel Junior/Divulgação/TV Globo

Colunista do UOL

30/09/2021 04h00

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A performance de Letícia Sabatella como a imperatriz Teresa Cristina está sendo um dos destaques de "Nos Tempos do Imperador". Com talento, a atriz vem dosando gestos comedidos, postura discreta e a resiliência diante das adversidades para marcar essa mulher, que ainda assim consegue demonstrar altivez que o "cargo" exige. Ao mesmo tempo, vai voltar à cena outra personagem que é o contraponto da contida imperatriz: Latiffa, de "O Clone". A reprise da trama estreia no "Vale a Pena Ver de Novo" a partir dia 4, e traz uma Letícia expansiva, exuberante, colorida e dramática.

O retorno da novela, após 20 anos de sua primeira exibição, ativa as lembranças da artista, impressionada com o alcance da história no exterior.

Ah, 'O Clone' é um fenômeno, né? Eu fui para a Rússia e era reconhecida na rua. Pessoas aprenderam a falar português na Rússia por causa da novela. Eu tenho seguidores russos. É muito lindo isso. Acho que muitas pessoas se apaixonaram pela Latiffa. Eu me senti muito acarinhada", recorda a atriz.

Lembro que ficava pensando: 'Meu Deus, como é isso? Clonagem com o mundo, universo muçulmano. Questões fundamentalistas com questões da ciência com tanta sensibilidade'. Eu fico feliz que a novela, até hoje, tem o que dizer", orgulha-se Letícia.

Por ainda fazer parte das recordações do público, a atriz diz ter a sensação de que a história de Gloria Perez nunca saiu do ar.

Toda hora 'O Clone' aparece para mim, porque me mandam muita coisa. Ainda continua tendo muita repercussão em várias línguas, né? Então, parece que não deixou de passar. No mundo inteiro, está sempre reprisando, e é uma delícia de rever. Inspira a gente. É cheio de sabores, né? Cheio de coloridos. Eu vou adorar rever mais um pouquinho. Queria encontrar essa turma mais vezes. Tomara que a gente consiga vencer essa pandemia e possa se encontrar em uma grande festa, sabe? Vai ser muito amor abraçar todo mundo que fez parte."

A artista descreve os bastidores da produção como 'muito animado' e que o núcleo foi muito feliz porque os atores formavam uma espécie de trupe:

A gente se divertiu do início ao fim. Não teve nenhum momento de barriga, cansaço. O núcleo ficou colorido, dançante, divertido. Era cheio de humor, mas tinha drama e sensibilidade também. Acho que foi uma trajetória que me deu muitas alegrias", afirma Letícia, que dividia set com Giovanna Antonelli, Antonio Calloni, Eliane Giardini, Jandira Ferrari, Stênio Garcia, entre outros.

'Vale a pena ver de novo' - reprodução/TV Globo - reprodução/TV Globo
Latiffa (Letícia Sabatella) morria de ciúme de Mohamed (Antonio Calloni), em 'O Clone'
Imagem: reprodução/TV Globo

Aliás, as duas personagens de Letícia que estarão no ar tem mais em comum do que a gente pode imaginar. Tanto Teresa Cristina como Latiffa tiveram casamentos arranjados, mas acabaram se apaixonando pelos maridos Pedro (Selton Melo) e Mohamed (Antonio Calloni), respectivamente. Além das duas terem caído nas graças do público.

Latiffa era uma pessoa com uma alma, de certo modo, libertária, mas vivia aquele amor idealizado, romântico, e realmente se apaixonou pelo Mohamed. Deu uma sorte danada, porque ela tinha todo o ideal de se casar, isso aconteceu e ela aprendeu a amar o marido. O bom é que os dois bateram, deu química, sabe? A sorte de Latiffa e Mohamed é que eles tinham a ver.

Sem contar que Latiffa teve uma empatia muito imediata com o público. Assim como a Imperatriz Teresa Cristina. Eu fiquei muito comovida com essa identificação das pessoas com ela, uma mulher que na história foi tão silenciada".

Mergulho profundo na cultura

Não foi brinquedo, não, se colocar pronta para viver Latiffa. Aulas sobre o Alcorão, dança do ventre, prosódia, culinária, olho vivo em filmes iranianos, árabes... O mergulho na cultura muçulmana foi intenso. Só de pensar já fico exausta. Mas para Letícia foi tudo indolor.

Gloria nos cedeu toda sua pesquisa. Eu devorei livros de várias autoras árabes. A gente teve acesso à comunidade muçulmana, a sheiks que nos ensinaram a declamar o alcorão. Tive os primeiros 20 capítulos traduzidos em árabe e eu aprendi em árabe para ir pegando o sotaque. Ainda teve mais a vivência no Marrocos, quando fomos gravar as primeiras cenas. Eu já estava impregnada da cultura", conta a artista.

vale a pena ver de novo - João Miguel Junior/Divulgação/TV Globo - João Miguel Junior/Divulgação/TV Globo
Jade (Giovanna Antonelli) e Latiffa (Letícia Sabatella): primas em 'O Clone'
Imagem: João Miguel Junior/Divulgação/TV Globo

Mas para não dizer que tudo foram flores, Letícia aponta o que ela chama de "desafiador" e não de complicado.

A dança do ventre foi um pouco desafiadora, assim como entender o Alcorão. Fato é que para mim, foi um parque de diversões. Não vejo assim: "Puxa, isso foi muito difícil". Acho que o maior desafio para todos nós era que não trouxéssemos uma caricatura e eu tomei muito cuidado com isso", garante.

Expressões na boca do povo

Sabe o que está gravado na memória? As expressões que Latiffa e cia soltavam a cada capítulo. Quem não se lembra do indefectível "Insh'Allah" (Deus queira)? Provavelmente, deve deve voltar com tudo graças a reprise da novela.

O 'Insh'Allah' (Deus queira) e o 'Aláamdu lillâh' (Louvado seja Deus) a gente aprendeu nas leituras do Alcorão. E eu tomava muito cuidado de não transformar isso em um bordão vazio, porque, quando eu fui para o Marrocos, percebi que quando falam "Allah!" (Deus) é do fundo da alma. Na hora em que ela falava 'Assalamu Aleikon' (A paz esteja convosco) era de coração. Eu assumi muito essa responsabilidade. Pedi muito a inspiração a Deus. Acho que esse era o desafio: tratar com delicadeza", afirma a artista.

Sintonia fina

Enquanto Jade (Giovanna Antonelli) casava a contragosto com Said (Dalton Vigh), e lutava para viver um amor proibido com Lucas (Murilo Benício), Latiffa e Mohamed tinham uma relação de muito amor. Saiam faíscas? Claro! Mas os dois, no fim das contas, se entendiam muito bem. A boa química na ficção já deixava claro que fora dela os dois também mantinham uma bela parceria.

Calloni é um parceiro incrível. Ele é um dos atores que eu mais admiro no Brasil e no mundo. É um ator completo: músico, poeta. Uma pessoa sofisticadíssima, de uma inteligência, sagacidade, delicadeza, gentileza e sofisticação adoráveis", diz Letícia, rasgando-se em elogios ao colega de profissão.

"O Clone" não é a primeira novela que a dupla faz parceria. Eles já estiveram juntos em "O Dono do Mundo" (1991). Só que a trama de Gloria Perez é a oportunidade de Letícia em retribuir a gentileza de Calloni na trama de Gilberto Braga.

Quando eu fui trabalhar em "O Dono do Mundo", eu me sentia muito crua. Começando minha primeira novela, caindo de paraquedas em uma trama do Gilberto Braga, do (diretor) Dennis Carvalho. Calloni era muito novo, mas muito pronto. Sempre fui superfã. Ao fazer 'O Clone' com ele, eu assume o seguinte propósito: 'Caramba, agora eu quero arrebentar. Quero fazer uma superparceria. Quero estar à altura desse ator e valorizar o trabalho dele em cada respiração, sabe?", diz a artista.

Na minha cabeça eu queria de algum modo agradecer a paciência que ele teve comigo em 'O Dono do Mundo'. Fiquei muito feliz com o resultado, estava muito inspirada, feliz, e o Calloni entrava apoiando, brilhando e contribuindo como sempre. Minha parceria com ele é algo que eu quero repetir várias vezes na vida."