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Marcelle Carvalho

REPORTAGEM

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'Um Lugar ao Sol': autora diz que falar sobre irmãos e avós é sua obsessão

Christian (Cauã Reymond) e Renato de Um Lugar ao Sol (Reprodução - TV Globo)  - Reprodução / Internet
Christian (Cauã Reymond) e Renato de Um Lugar ao Sol (Reprodução - TV Globo) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

01/11/2021 04h00

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Atire a primeira pedra aquele que não tem alguma obsessão na vida. Qualquer uma. Pode ser o de completar um álbum de figurinha. Ter algum tipo de coleção. A autora Lícia Manzo tem algumas das quais ela não abre mão em suas novelas: a relação entre irmãos e a figura da avó. E ela trabalha esses elementos com tanta maestria que muitas vezes parece falar da nossa vida. Foi assim em "Sete Vidas" (2015) e "A Vida da Gente" (2011). E não será diferente em "Um Lugar ao Sol", seu novo folhetim que estreia dia 8, marcando a sua primeira vez o horário das 21h.

Minha obsessão com o tema (irmãos) vem do fato de eu ser filha única e sempre ter querido um irmão. Acho que o filho único é criado numa vida de laboratório. Irmãos têm que lutar pelo seu espaço, têm grandes explosões, brigam, fazem as pazes. De modo geral, essa relação tem a certeza do afeto. Existe essa cola de dividir a mesma origem, a infância. É muito poderoso, real, tem algo dramático que rende muito na teledramaturgia", explica a autora.

um lugar ao sol - A autora de novelas Lícia Manzo (Divulgação / Globo) - A autora de novelas Lícia Manzo (Divulgação / Globo)
A autora de novelas Lícia Manzo (Divulgação / Globo)
Imagem: A autora de novelas Lícia Manzo (Divulgação / Globo)

E o caminho que Lícia pegou dessa vez, certamente, vai dar muito pano para manga. A autora traz como protagonistas gêmeos. Christian e Renato, vividos por Cauã Reymond, são separados ainda bebês e se encontram apenas quando adultos. Porém, o final feliz não acontece, já que eles têm apenas uma madrugada para se conhecerem, antes da tragédia que levará Renato. Como amigos, família e namorada passam a acreditar que Christian é Renato, o rapaz pobre toma a vida do irmão rico e tem que viver com as consequências dessa decisão.

Apesar de não ser uma trama original, Lícia afirma não perceber a repetição - "percebo uma história que me move", diz - e que o importante para ela não é a troca dos gêmeos, mas o que isso vai reverberar dentro dos personagens.

Não acredito em enredo repetido, acredito no modo de contar. A autoria vem primeiro que a história. Na hora que fiz o cálculo, não pensei nas outras histórias. Para mim é original. O importante não é a trama em si. O que está em jogo é a repercussão do fato dentro dos personagens. Mais interessante é a subjetividade, a camada psicológica, social que isso me traz", afirma a autora.

A avó não pode faltar

Ainda sendo fiel a suas fixações, Lícia não deixa de fora a avó. Em "Um Lugar ao Sol" ela está personificada na figura de Noca, interpretada por Marieta Severo. Responsável pela criação da neta Lara (Andreia Horta), após a morte de sua filha, ela é aquela figura sábia, que está sempre a postos para o que der e vier com a neta. Noca lê na mesma cartilha de Iná (Nicette Bruno) e Esther (Regina Duarte), de "A Vida da Gente" e "Sete Vidas", respectivamente.

Não existiria sem minhas obsessões. A figura da avó me dá a oportunidade de falar de ancestralidade, chacoalha a crença de quem é velho não tem nada para ensinar", afirma Lícia, que não conheceu suas avós.

novela das 21 - Fábio Rocha/Divulgação/TV Globo - Fábio Rocha/Divulgação/TV Globo
Noca (Marieta Severo) é mais uma avó no rol das matriarcas da autora de 'Um Lugar ao Sol'
Imagem: Fábio Rocha/Divulgação/TV Globo

Iná, Ester e, agora, Noca são três avós provocadoras, desorganizadas de crenças, ativas. Sempre farei avós em meus trabalhos. É o meu tributo a uma fatia da população equivocadamente aposentada, justamente, quando tem tanto a oferecer. E as atrizes encontraram eco. Para mim é uma riqueza escrever e ver a informação que elas trazem da vida transcorrida delas. Tudo isso tem impressão nas personagens e eu só teria essa possibilidade em alguém que viveu muito", constata Lícia.