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Como viver Aracy de Carvalho deixou Sophie Charlotte mais destemida
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Na vida, a gente tem que ficar atento aos sinais. Algumas vezes, eles são bem claros. Tanto que Sophie Charlotte não pensou duas vezes em ir atrás de Jayme Monjardim ao saber que tinha nas mãos a história de Aracy de Carvalho, brasileira funcionária do Consulado do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, responsável por salvar centenas de judeus do Holocausto. A história é contada em "Passaporte para Liberdade", minissérie em oito capítulos, toda falada em inglês, que a TV Globo exibe a partir do dia 20.
Descobri essa história meio que por acaso, em um almoço no Projac. E fui correndo bater à porta da sala do Jayme. Muitos acasos me encaminharam para essa história. Nasci em Hamburgo, onde vivi até os 8 anos. Encontrar a cultura Brasil-Alemanha que faz parte da minha vida, descobrir uma história dessa magnitude, foi arrebatador", afirma a atriz.
Quando fui procurá-lo, a minissérie era falada em português. Durante o processo, é que passou para o inglês por conta da parceria com a Sony. E eu ainda tive a cara de pau de dizer ao Jayme que dava conta e que queria fazer isso (risos)."
Na verdade, não foi problema para a atriz ter que mudar a chave do idioma. Afinal, ela é fluente e no inglês e alemão. E Sophie foi ainda mais fundo na construção da personagem. Além de todo material em papel e vídeo recebido para estudo, a atriz retornou a sua terra natal.
Voltei a Hamburgo sozinha pela primeira vez e fiquei por 10 dias. Fiz uma pesquisa profunda nos museus, caminhei pelas ruas que ela andava da sua casa até o consulado, que não fica mais no mesmo lugar e ouvia muito música da época. O clima, as comidas, o jeito da cidade, tudo isso é muito familiar para mim. A mãe da Aracy era alemã como minha mãe; eu tenho um filho de 5 anos, Aracy foi para Hamburgo com a mesma idade. Então, são muitos paralelos que foram se apresentando ao longo desse processo e me provocando memórias".
Com uma trama forte nas mãos, impossível não trazer ensinamentos para a vida real. Principalmente, porque foram três anos convivendo com Aracy, desde o momento em que foi escalada para vivê-la até o último dia de gravação, interrompida por quase um ano devido a pandemia.
A jornada de Aracy é poderosa e me mostrou que a gente tem que ter coragem na vida, agir pelo coração, ouvir a intuição. Não deixar o medo paralisar. Isso eu trouxe para minha vida", conta a atriz.
Sophie pode não ter percebido, mas ela já tinha essa coragem. Não é todo mundo que pede para encarar uma missão dessas, principalmente, quando a pessoa a ser retratada não é apenas obra da ficção. E, por isso, a atriz não esconde que sentiu a responsabilidade nas costas.
Foi muito forte, nunca senti tanta responsabilidade. Dar voz a uma mulher que foi tão importante para tantos e que era reservada, nunca fez alarde de seus feitos. Me sinto sortuda, abençoada por viver Aracy. Espero ter feito jus a ela, por sua família e pelos descendentes daqueles que ela salvou", afirma, emocionada.
Amor em tempos de cólera
A trama vai contar também a história de amor entre Aracy e João Guimarães Rosa (que viria a se tornar um dos maiores escritores brasileiros), que conheceu a moça ao ocupar o cargo de vice-cônsul no Consulado Brasileiro em Hamburgo. A brasileira trabalhava no setor de passaportes, portanto, conseguia facilitar a emissão de vistos de judeus para o Brasil, ignorando restrições e driblando empecilhos.
Uma história de amor que aconteceu no meio da Segunda Guerra. Acho que quando ela saiu do Brasil, a última coisa que imaginava era se envolver com alguém. Ainda mais com uma pessoa de dentro do consulado, o que a impossibilitaria de continuar trabalhando no local. Mas o amor se impõe. E é necessário vive-lo, mesmo em tempos tenebrosos", filosofa.
Na história, Rodrigo Lombardi interpreta Guimarães Rosa. E fica encantado com a paixão que nasceu entre essas duas figuras e vê a importância desse amor para transformação do escritor.
Quando João Guimarães Rosa conheceu esa guerreira, ele era só um cara. Um cara apaixonado pelo idioma e cultura alemã. Depois de tudo que viveu, ele se torna um dos maiores autores da literatura brasileira de todos os tempos. Impossível não acreditar que toda a sua obra foi impactada por essa experiência", analisa Lombardi.
Aracy era conhecida apenas por ser a viúva de Guimarães Rosa. Com a minissérie, o autor Mario Teixeira espera fazer jus a importância dessa mulher.
Quero que ela passe a ser conhecida pelo nome. Era muito reservada, mas fez muito pelas pessoas, arriscou a própria vida para salvar a de outros. Porque nem imunidade diplomática ela tinha. Se fosse pega pelos nazistas, iria morrer", diz o autor.
A gente está vivendo momento de reflexão. A pandemia, tudo que a gente está passando nos faz pensar. Assim como Aracy existem muitas pessoas que querem fazer o bem, que olham para o próximo. É bom conhecer alguém que foi capaz de fazer algo pelo outro sem pedir nada em troca", acredita Jayme Monjardim, diretor artístico da minissérie.
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