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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não dá pra TV Globo ignorar Regina Duarte nos 70 anos da novela brasileira

Regina Duarte e sua Viúva Porcina: uma das personagens mais antológicas de "Roque Santeiro" - arquivo
Regina Duarte e sua Viúva Porcina: uma das personagens mais antológicas de 'Roque Santeiro' Imagem: arquivo

Colunista do UOL

23/12/2021 18h11

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Desde que me entendo por noveleira, sempre ouvi minha mãe dizer que seus atores favoritos eram Regina Duarte e Sérgio Cardoso. Infelizmente, não vi o ator atuando, pois ele já tinha falecido quando comecei a flertar com o gênero. Mas pude testemunhar o porquê de minha mãe não perder um folhetim com a atriz: Regina sempre trouxe uma emoção genuína a cada personagem, além de em vários momentos, o público se ver nos tipos em que representou. Uma pena, portanto, que a artista tenha sido ignorada justamente no especial "70 anos Esta Noite", uma homenagem à telenovela brasileira exibida pela TV Globo.

Vão dizer que ela foi lembrada, sim, com cenas de alguns de seus trabalhos mostrados no especial. E que, inclusive, a imagem dela e de Francisco Cuoco foi a primeira a aparecer. Convenhamos que isso não foi absolutamente nada diante do que Regina representa para a telenovelas. Uma atriz que ganhou o título de Namoradinha do Brasil, não poderia de forma alguma não estar presencialmente em uma homenagem para o gênero. Como não ouvi-la falar sobre Viúva Porcina, de "Roque Santeiro"? A trama, inclusive, foi lembrada com Lima Duarte, ao ser mencionada sua primeira versão, proibida pela censura e, anos mais tarde, refeita com Regina no papel feminino principal. Mas nada da atriz discorrer sobre essa personagem antológica. Regina não estava lá no palco.

Não pudemos vê-la relembrando essa personagem, como tantas outras que estão no nosso imaginário. Quer ver? Duvido que dê para esquecer a incorruptível Raquel, de "Vale Tudo", a sucateira Maria do Carmo, de "Rainha da Sucata" ou as três Helenas de Manoel Carlos. Gente, a atriz foi a maior personagem do autor por três vezes. Isso não pode ser qualquer coisa. E, olha, estou citando as mais recentes. Por que se olharmos mais para trás, vai ficar ainda pior Regina não ter aparecido de maneira decente no especial. Os noveleiros mais antigos vão lembrar do burburinho que fez Simone, de "Selva de Pedra" - que forjava a própria morte e voltava como Rosana - e Luana Camará, de "Sétimo Sentido."

Independentemente das escolhas (questionáveis) de Regina para sua vida, é inegável o quanto a atriz significou para os folhetins nacionais. E a comemoração é para os 70 anos da telenovela, portanto, neste momento, o entrevero entre emissora e a artista não poderia ser maior do que a comemoração para o gênero. Falar das nossas tramas e ignorar uma de suas maiores representantes é, no mínimo, indelicado. Regina pode não fazer parte do futuro da TV Globo, mas a emissora apagá-la do seu passado ou minimizar a relevância da atriz nas telenovelas, é uma missão impossível.