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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Feminicídio em 'Um Lugar ao Sol' choca, mas retrata uma trágica realidade

Roney mata Stephany em "Um Lugar ao Sol": final trágico e real - reprodução
Roney mata Stephany em 'Um Lugar ao Sol': final trágico e real Imagem: reprodução

Colunista do UOL

17/03/2022 16h02

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Não foi nada fácil assistir ao fim trágico de Stephany (Renata Gaspar) em "Um Lugar ao Sol". Assassinada pelo marido, Roney (Danilo Granghéia), no capítulo desta quarta-feira (16), a cena, uma das mais fortes exibidas na novela até agora, já seria impactante se fosse apenas obra de ficção. Mas ela machuca, dói, revolta ainda mais por ser o que acontece na vida de milhares de mulheres. Só para se ter uma ideia, no Brasil se registra um feminicídio a cada sete horas, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Portanto, ver Stephany sendo puxada, arrastada, agredida e por fim morta a tiros pelo marido, é um soco no estômago. Impossível não imaginar as vítimas de violência doméstica diante desta sequência. Muitas delas, certamente, já viveram (ou vivem) algumas das situações enfrentadas pela manicure. Além das ameaças de morte, do constante medo de que a próxima agressão seja aquela que vai tirar sua vida.

Justamente por isso, o final da personagem, acredito, deveria levar alguma esperança para quem conhece bem o drama de Stephany. Inclusive, seria uma maneira também de não dar margem para se pensar que o desfecho da manicure poderia ter sido um castigo pelas chantagens que vinha fazendo com Christian/Renato (Cauã Reymond). Sim, há quem pense assim e deixe registrado nas redes sociais. Outros, apenas verbalizam para amigos em tom de "brincadeira".

Deixar Stephany viva não seria maquiar uma causa tão séria, mas uma oportunidade de mostrar o lado da ajuda, do acolhimento, do suporte. Porque ele existe. A gente vem acompanhando a história da manicure e seu marido desde o início da novela. O sofrimento da irmã da Erica (Fernanda de Freitas) já deve ter levado muita gente às lágrimas (sou uma delas, inclusive) com o fato de querer, mas não conseguir se libertar dessa relação. De fingir para si mesmo que o cara vai mudar. Teria sido interessante quebrar esse ciclo violento e dar a oportunidade para Stephany ver o mundo sem medo. Porque através dos olhos da personagem, muitas mulheres que se identificaram com o drama da manicure, também poderiam enxergar um caminho diferente daquele violento em que vivem.