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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com temas relevantes, 'Um Lugar ao Sol' chega ao fim injustiçada

Christian e Renato: irmãos se reencontram, por acaso, após 28 anos. em "Um Lugar ao Sol" - reprodução/Gshow
Christian e Renato: irmãos se reencontram, por acaso, após 28 anos. em 'Um Lugar ao Sol' Imagem: reprodução/Gshow

Colunista do UOL

25/03/2022 12h07

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Quando 'Um Lugar ao Sol' estreou, em novembro do ano passado, a expectativa era enorme. Além de ser a primeira novela inédita da Globo gravada durante a pandemia, era a primeira vez da autora Lícia Manzo no horário das 21h. Escritora sensível, trouxe para o folhetim assuntos delicados como gordofobia, violência doméstica, alcoolismo, questões relacionadas ao feminino (envelhecimento, menopausa e masturbação). O horário nobre, após sequencias de reprises, não poderia ter retornado com inéditas em melhor estilo. Porém, a sensação que se tem com o término de "Um Lugar ao Sol", nesta sexta-feira (25) é a de que era a novela certa no momento errado.

Sim, porque não há dúvidas sobre a qualidade do texto e da história de Lícia. Mas o tratamento dado ao folhetim, pela emissora, é que talvez tenha deixado a desejar. Desde o início, a novela passou por várias provas de fogo. Por conta da pandemia, teve que ser mais curta, além de estrear totalmente gravada. Já no ar, penou com a inconstância do horário de sua exibição, já que dependia visivelmente da grade do futebol na Globo. Some a isso uma divulgação fraca para seu lançamento e ainda o fato de ter sido esticada, por duas semanas, para segurar o adiamento da estreia de "Pantanal", A sensação é a de que a novela passou os quatro meses no ar buscando seu lugar ao sol.

A autora sabe como ninguém fisgar o público com seus 'ganchos' no fim dos capítulos. A cada encerramento, rolava uma ansiedade pelo do dia seguinte. Mas ao esticar a novela, fragmentando as cenas para cumprir essa missão, todo trabalho de Lícia e de sua equipe foi para o espaço: o que se viu foram sequências estranhas, desfechos abruptos, sem o cuidado tão característico da escritora. Em muitos momentos, a novela terminava sem brilho, sem a tensão necessária para fazer o público querer saber o que vai acontecer com determinado personagem. O que foi minando, de certa forma, ainda mais o interesse pela história.

Sou uma entusiasta da novela, sem dúvida. Acho o olhar sensível e apurado de Lícia Manzo, aliado ao primor de seu texto, necessários a nossa teledramaturgia. Espero que sua primeira experiência no horário nobre não a tenha traumatizado. Muito menos o fato de Um Lugar ao Sol carregar o título da trama com a pior audiência da história das novelas das 21h da Globo. Certamente, uma baita injustiça.