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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Remake de 'Pantanal' tem potencial para repetir sucesso da primeira versão

Colunista do UOL

29/03/2022 01h48

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Assistir ao primeiro capítulo de "Pantanal", na noite desta segunda-feira (28), foi fazer uma viagem no tempo. Tinha 15 anos quando a novela de Benedito Ruy Barbosa foi ao ar na extinta TV Manchete. Via com a minha mãe, a 'culpada' por eu ter virado noveleira de carteirinha. Portanto, o remake assinado por Bruno Luperi, neto do veterano autor, mexeu profundamente com minha memória afetiva. E acredito que com a de todos aqueles que, na época, não perderam um capítulo de uma história que se tornou sucesso retumbante fora da TV Globo.

Assim como na versão original, a relação entre Joventino (Irandhir Santos) e José Leôncio (Drico Alves/Renato Góes) foi bem explorada. É necessário que o público entenda como é a conexão entre pai e filho para que no futuro próximo compreenda o porquê desse herdeiro, após anos, ainda esperar pela volta do pai, sumido após ir atrás de um boi marruá. Aliás, é impressionante a entrega de Irandhir e Renato Góes a seus personagens. A sensação é a de que são dois peões raízes, nascidos para liderar comitivas, trazer boi 'pela unha'.

Em mais de uma hora de capítulo, as homenagens à primeira versão saltam aos olhos. Dar de cara com Paulo Gorgulho naquele cenário tão emblemático para o ator, é de comover. Intérprete de José Lucas, um dos filhos de José Leôncio, há 32 anos, Gorgulho fez uma participação afetiva no remake como Ceci, peão cansado da pesada lida, e braço direito de Joventino. Porém, a presença do ator é mais do que especial: sem precisar pontuar, ele passa o bastão de seu antigo personagem para Irandhir, que fará José Lucas na segunda parte de "Pantanal".

Antes do primeiro intervalo, ainda sobre uma imagem do pantanal, o público escuta o vozeirão de Maria Bethânia: "os filhos, dos filhos, dos filhos, dos nossos filhos verão". É a deixa para a cantora entrar com toda a sua potência na música de abertura da novela, a mesma da versão original exibida na Manchete. Está lá a canção que arrepia a alma, principalmente, quando alinhada as belas imagens do bioma. Mas, confesso, ter sentido falta da grandiosidade que a orquestra trazia na versão de Marcus Viana, multi-instrumentista e compositor da antológica canção. A impressão é a de que todo aquele cenário espetacular, capaz de endoidecer gente sã (no melhor sentindo, claro), era traduzido naquela versão.

A estreia mostrou também, em paralelo a historia de Joventino e José Leôncio, o início da saga de Maria (Juliana Paes) e Gil (Enrique Diaz). Antes de eles irem para o Pantanal, e ela ser temida por "virar onça". Foram sequencias curtas, mais para registrar a tragédia que vem por aí. Juliana e Diaz - que esteve no original como Francisco, papel de Túlio Starling) - aliás mostraram o quanto podem render na pele dos personagens defendidos no passado por Cássia Kis e José Dumont. A atriz, na verdade, tem nas mãos uma prova de fogo, mesmo já sendo tarimbada na arte de representar.

No mais, "Pantanal" trouxe de volta um ritmo um pouco mais lento, diferentemente das últimas novelas inéditas antes da pandemia. O pôr do sol que mais parecia uma pintura, as aves (leia-se tuiuiús), a boiada, as comitivas... Para quem viu a antiga versão, difícil não ser tocada no ato por lembranças tão caras. Se o remake vai repetir o mesmo sucesso da original, exibida na extinta TV Manchete, só o tempo vai dizer. Só um detalhe: o primeiro capítulo marcou picos de 30 pontos em São Paulo e 32 no Rio. Não seria um indicativo de que o remake poderá seguir os mesmos passos da primeira versão? Fiquemos de olho!