"Papa da dublagem", Orlando Drummond ganhou papel de Seu de Peru por acaso
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Voz do Scooby-Doo, do Alf e do Popeye, entre centenas de outros personagens da animação e do cinema que dublou, Orlando Drummond só descobriu a fama perto dos 70 anos, quando ganhou a vaga, por acidente, para viver o Seu Peru na "Escolinha do Professor Raimundo", na Globo.
O papel criado por Chico Anysio estava destinado a um outro ator, que passou pelo teste, fez laboratório e ensaiou, mas na última hora desistiu. "Ele não se sentiu confortável com a personagem e com a possível repercussão que poderia ter", conta o jornalista Vitor Gagliardo em "Orlando Drummond - Versão Brasileira" (Gryphus, 340 págs., R$ 69,90).
A diretora Cininha de Paula não revela quem foi o ator que abriu mão do papel ("Eu realmente não me lembro"), mas conta que foi o próprio Chico Anysio que tomou a decisão que ajudaria a mudar a vida do "papa da dublagem". "Chama o Drummond! Ele vai dar conta!"
Hoje, o ator e dublador diz: "Eu não sou mais o Orlando Drummond; eu sou o Seu Peru". Gagliardo conta que Chico dava muita liberdade aos atores para adaptarem os personagens. Segundo o biógrafo, apenas a frase "Estou porrr aqui" foi criada previamente. Tudo o mais, como "Peru com mel de Vila Isabel", "Use-me e abuse-me, teacher!" e "Te dou o maiorrr apoio", foi invenção do ator.
A generosa biografia de Gagliardo é também uma aula sobre rádio, dublagem e televisão, com muita informação sobre os ambientes que Drummond conheceu profissionalmente e sobre o que ele fez em cada lugar. O autor tem o cuidado de resumir didaticamente a história de cada programa radiofônico, cada filme e cada desenho animado em que o ator atuou.
Nascido no Rio em 1919, Orlando tentou vários trabalhos antes de conseguir um emprego como contrarregra na rádio Tupi, em 1942. Dos bastidores vira radioator e de lá salta para a TV Tupi, onde fez pequenos papeis em programas de humor.
A atividade a qual mais se dedicou, como se sabe, foi a dublagem. E é na descrição que o autor faz deste universo que reside um dos maiores interesses da biografia. Trata-se de uma aula sobre o assunto, com lições sobre a técnica, relatos sobre a precariedade inicial do trabalho, as greves por direitos (Drummond ficou marcado como "fura-greve" em 1978) e a regulamentação do ofício, sem falar da menção a uma série de profissionais que se destacaram como dubladores.
O livro termina lembrando das muitas homenagens que Drummond recebeu no seu centenário, em outubro passado, incluindo o seu encontro com Marcos Caruso, que vive o Seu Peru na nova "Escolinha do Professor Raimundo".
A diretora Cininha de Paula arrisca uma explicação para a permanência do personagem - a caracterização do ator: "Na era do politicamente correto, talvez não tivesse espaço para o Seu Peru. Mas ele tá aí e é adorado, graças aos Orlando Drummond". Caruso vai na mesma direção: "Ele cria uma caricatura, não deixa de ser, mas é uma caricatura sem juízo de valor. Não está julgando o gay. Ele está vivendo o gay".
Gagliardo encerra o livro dizendo que Drummond não gosta de ser chamado de "papa da dublagem". Prefere dizer que é um dos pioneiros. Em todo caso, lembra o autor, três netos de Drummond são hoje dubladores e ele é uma referência para as novas gerações.
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