Com humor mais básico, Fora de Hora ri do jornalismo, da Globo e do governo
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Humoristas adoram rir do jornalismo e, é preciso dizer, o jornalismo sempre fez por merecer essa preferência. "Fora de Hora", lançado nesta terça-feira (21), é mais um programa a explorar os cacoetes dos profissionais, as situações absurdas vividas por repórteres nas ruas, a solenidade ridícula dos apresentadores e as opções editoriais inexplicáveis que assistimos diariamente em todos os canais.
O novo humorístico da Globo simula a exibição de um telejornal real, do início ao fim, com uma dupla de apresentadores no estúdio (vividos por Paulo Vieira e Renata Gaspar), convocando repórteres para entradas ao vivo e promovendo conversas com especialistas na bancada.
"Fora de Hora" é uma criação da mesma equipe que fez, por seis anos, o "Tá no Ar", mas não é um filhote deste. É um investimento em outra direção, num humor mais popular, com piadas mais explícitas e muito menos recursos de edição. Não sei se a ambição é alcançar números de audiência mais altos, mas certamente o novo programa oferece uma comunicação mais clara e direta com o espectador.
Um dos trunfos do "Fora do Hora" é a possibilidade de gravar parte do conteúdo de cada episódio nos dias que antecedem a exibição. Isso dá temperatura ao humorístico. Na estreia, por exemplo, houve piadas com a demissão de Roberto Alvim, secretário de Cultura do governo Bolsonaro, e com os problemas de água no Rio. "Não é porque tem música nazista, estética nazista, discurso nazista que é nazista também", ironizou o âncora sobre o vídeo que causou a demissão de Alvim.
Como é normal em programas do tipo, com muito texto e esquematizado em uma sucessão de quadros, o que soa engraçado para alguns não é para outros. Dei boas risadas em vários momentos, mas não vi muita graça em outros.
Ideias boas nem sempre resultam em piadas efetivas, como a situação em que a repórter vai entrevistar uma testemunha anônima de um crime, mas a figura quer aparecer (e não esconder o rosto). "Não põe voz de pato em mim", pede o personagem.
Ri muito da jornalista sincera, que relata a situação do trânsito em São Paulo do alto de um helicóptero. "Como tá o transito aí?", pergunta a âncora. "Uma bosta", responde a repórter aérea. Também foi impossível não rir da piada cretina com a correspondente do telejornal no Vaticano, que começou a cobrir (literalmente) o papa.
Parte importante do "Fora de Hora" é a interação da dupla de apresentadores. Paulo e Renata (os personagens têm os mesmos nomes que os atores) estão construindo uma relação, que promete ser ótima, mas ainda não está afiada. Às vezes, há sobreposição de vozes e não se entende tudo que dizem.
O quadro "Notícias tristes da semana, também conhecido como notícias da semana", trouxe manchetes engraçadas, como "MEC erra notas do Enem e governo entra em recuperação" ou "BBB confina youtubers por três meses e o Brasil comemora" e, ainda, "Anitta investe na carreira de atriz e, para se vingar, Carolina Dieckmann investe na carreira de cantora". Esta última notícia mereceu um comentário do âncora: "Todo mundo sai perdendo".
Piadas com a própria Globo e profissionais da emissora foram vistas já no episódio de estreia. Ao reclamar da incompetência de um repórter, Paulo perguntou: "Por que ninguém manda ele embora? A Globo tem umas coisas. Ele é parente de alguém aqui?"
Também houve referências a concorrentes. Um repórter sensacionalista justificou o texto repleto de hipérboles que leu dizendo: "Eu vim de outra emissora, Paulo. Eu tenho que me defender aqui. Você não sabe o que é você ficar trabalhando e não ter ninguém do outro lado pra te assistir". O âncora respondeu: "Eu sei".
Enfim, "Fora de Hora" tem tudo para ser uma boa opção nas noites de terça-feira. Não vai satisfazer as viúvas do "Tá no Ar", mas pode conseguir fazer rir quem tiver menos expectativas sobre o programa.
Sob o comando de Marcius Melhem e Dani Ocampo, redação final de Caito Mainier e Mauricio Rizzo, "Fora de Hora" tem três diretores: Lilian Amarante, Calvito Leal e Manuh Fontes.
O elenco é formado por Marcelo Adnet, Marcius Melhem, Júlia Rabello, Caito Mainier, Luís Lobianco, Welder Rodrigues, Eduardo Sterblitch, Luana Martau, Veronica Debom, Luciana Paes, Késia Estácio, Pedroca Monteiro, Mauricio Rizzo e Gustavo Miranda.
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