"Cidade Alerta" recebe lição de jornalismo da filha de homem assassinado
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A cobertura de um assassinato nesta terça-feira (09) expôs mais uma vez os péssimos métodos do "Cidade Alerta". Graças à indignação da filha da vítima, a repórter que acompanhou o caso e o apresentador do programa foram protagonistas, ao vivo, de um vexame de grandes proporções.
O crime foi apresentado inicialmente como: "Urgente: Agiota é encontrado morto. Há relatos de briga com a amante". Diante da casa da vítima, a repórter Luiza Zanchetta entrou ao vivo, entrevistando a filha do homem assassinado.
A moça imediatamente protestou contra a qualificação do homem como "agiota" e deu uma primeira lição: "Eu perdi meu pai hoje e não estou vendo um pingo de respeito aqui. Vocês falando que ele é agiota, gente! Como assim, qual é essa informação? Da onde vocês tiraram isso, por favor? Eu acho que vocês têm que ter um pingo de consideração!"
Dirigindo-se ao apresentador Luiz Bacci, a repórter disse: "A polícia não confirma essa informação, Bacci, mas eu conversei com vizinhos que conhecem bem o Josenildo". Neste momento, a legenda já havia mudado para: "Urgente: Josenildo encontrado morto. Há relatos de brigas com a amante".
A jovem, chamada Amanda, deu então uma segunda lição: "Nem o nome vocês estão passando direito, gente, como vocês vão passar a profissão do meu pai? Meu pai tinha casa de aluguel e o nome dele é Josivaldo".
A repórter insistiu na defesa de sua informação, obtida junto a "vizinhos", de que o pai de Amanda era agiota: "Tudo bem, mas você concorda que a gente não pode descartar essa possibilidade?"
Foi, então, que a jovem deu a terceira e mais importante lição ao jornalismo da emissora: "Vocês não podem afirmar uma coisa. De repente, vocês vêm com suposições de vizinho? Achei que o jornalismo da Record era mais responsável".
O apresentador tentou contemporizar: "Amanda, eu entendo a sua dor. Nós chegamos agora aí. É claro que é o de menos se ele era ou não agiota". Mas o estrago já estava feito: "Sim, mas acho que há um pingo de respeito que tem que ter, pô! Eu estou sentindo uma dor aqui, cara, não sei se você tem o seu pai ou não. Mas tiraram a vida do meu pai, gente, e vocês vêm falar essas merdas!"
Depois de ter chamado Josivaldo de agiota, a repórter disse: "A gente não está querendo denegrir a imagem do seu pai". Ao fundo, o apresentador confirmou: "Exatamente".
Veja trechos da reportagem abaixo:
Outros casos
Não é a primeira vez que, na ânsia de mostrar casos dramáticos ao vivo, o "Cidade Alerta" atropela as boas práticas jornalísticas.
Em março deste ano, uma mãe descobriu no "Cidade Alerta" que a filha foi assassinada - e desmaiou no ar. Isso ocorreu durante uma conversa entre Bacci, que manifestou surpresa com a situação, e o advogado do homem acusado pelo crime.
A editora-chefe do programa foi afastada do cargo após o ocorrido. O apresentador se defendeu dizendo que não sabia que o advogado iria passar aquela informação. Além disso, afirmou que a mulher havia dito que "quis saber as informações ao vivo na cobertura".
A cobertura da morte do ator Rafael Miguel e de seus pais, que completou um ano nesta terça-feira, também rendeu uma série de situações absurdas.
Joel Cupertino, irmão do homem apontado pela polícia como autor do crime, se revoltou com o sensacionalismo de Bacci. "Ele vai ter que se retratar em muita coisa e voltar pra escolinha de repórter", disse numa entrevista ao "Cidade Alerta".
Já o filho de Cupertino, chamado por Bacci de "filho do assassino", disse a uma repórter do "Cidade Alerta". "Vocês estão espalhando notícia falsa. Vocês são mercenários. Ele não é traficante, não é ladrão, não é pedófilo". Orgulhoso, o apresentador disse: "Preparem o seu coração para fortes emoções porque ele vai acabar comigo". E o garoto disse: "Abutres. Aquele Bacci é um canalha".
Os assuntos mais quentes da televisão estão no podcast UOL Vê TV. Confira abaixo:
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