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Mauricio Stycer

Sikêra Jr. e Carvalho resumem o que há de mais velho na TV brasileira

Sikêra Jr. e Marcelo de Carvalho durante o "Mega Senha", na RedeTV!  - Reprodução
Sikêra Jr. e Marcelo de Carvalho durante o "Mega Senha", na RedeTV! Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

06/07/2020 06h01

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Um vídeo de sete minutos do encontro de Sikêra Jr. com Marcelo de Carvalho no "Mega Senha" deste sábado (04) resume o que há de mais anacrônico na televisão brasileira.

Inicialmente, o vice-presidente da RedeTV e dublê de apresentador pediu ao comandante do "Alerta Nacional" que explicasse ao público como ele faz para identificar se um homem é homossexual.

Sikêra ensinou: "Se você desconfia que o teu amigo arreia uma fase, era 380 foi pra 220, 110, você pede para ele repetir algumas palavras".

Submetido ao teste, Carvalho reproduziu as palavras "chevete", "pistache" e "orange" fazendo caras e bocas. Sikêra, então, perguntou ao público: "Queima ou não queima?"

Depois de muitas gargalhadas, Carvalho falou da sua alegria de ter renovado o contrato com o apresentador do programa policialesco até 2027. No ar desde janeiro, de segunda a sexta, o "Alerta Nacional" é hoje uma das cinco maiores audiências da emissora.

Segundo Carvalho, Sikêra "tem uma linguagem que inovou na televisão" ao mesclar o noticiário policial pesado com comentários irreverentes e um elenco que o acompanha no estúdio fazendo palhaçadas. "Pela primeira vez na história da televisão brasileira", enfatizou o executivo.

Na realidade, não há inovação alguma no estilo do jornalista; ele apenas exagera mais no escracho do que outros seguidores deste gênero. E o fato de o vice-presidente da RedeTV! acreditar que o seu contratado inovou em algo - e que isso tem alguma importância - apenas mostra como ele está desconectado da realidade da televisão.

Na sequência, Carvalho e Sikêra dissertaram sobre a pandemia de coronavírus. O vice-presidente da RedeTV! chamou o esforço de isolamento social de "essa bobagem de quarentena". O jornalista, que foi hospitalizado após contrair a covid-19, corroborou a visão do patrão e falou do "caos" que estaria ocorrendo dentro das casas em que as famílias fazem quarentena.

Carvalho elogiou Sikêra por ter sido "uma das primeiras pessoas na televisão brasileira a defenderam a posição do presidente Jair Bolsonaro" - a de que o cuidado com as vidas não poderia ter como consequência a destruição da economia.

"Hoje nós vemos que nenhum lugar do Brasil ou do mundo que decretou 'lockdown', que fechou as portas, o número estabilizou. Pelo contrário. O número só explodiu", disse Carvalho, sem citar qualquer fonte que pudesse embasar uma declaração tão questionável.

Diante do discurso do patrão, Sikêra se mostrou até menos negacionista. "Me permita Marcelo. Eu digo sempre: se você pode ficar em casa, fique. Eu não posso. Tenho que trabalhar", disse. E acrescentou, descrevendo a sua rotina em tom de lamúria: "Eu e o elenco dependemos do nosso emprego. Eu tenho que estar lá diariamente, ao vivo. São três horas de pé, todo santo dia".

Carvalho encerrou a conversa insistindo no fim da quarentena: "Vamos fazer o Brasil funcionar de novo!" E, após recomendar que as pessoas usem máscara (embora não estivesse usando) e evitem proximidade com o próximo (embora não estivesse distante do apresentador), deu as mãos a Sikêra e disse: "Vida que segue".

Veja o vídeo: