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Mauricio Stycer

Como o livro que escreveu, Rodrigo Rodrigues tinha um "jeito Blitz de ser"

Rodrigo Rodrigues na bancada do programa "Troca de Passes" em fevereiro de 2020 - Reprodução/Instagram/@rr_tv
Rodrigo Rodrigues na bancada do programa "Troca de Passes" em fevereiro de 2020 Imagem: Reprodução/Instagram/@rr_tv

Colunista do UOL

28/07/2020 12h44

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Publicado em 2009, "As Aventuras da Blitz" (Ediouro) é um livro que diz muito sobre o espírito que Rodrigo Rodrigues irradiava. Ele escolheu contar a história justamente da banda mais solar do rock brasileiro.

É o seu primeiro livro e relata de forma cronológica o surgimento do grupo, o seu caminho até o sucesso, as primeiras tretas e a perda de encanto após o terceiro disco.

Rodrigo se coloca na dupla posição de jornalista e fã ao descrever o surgimento da Blitz. É respeitoso, mas nunca deixa de registrar, de forma marota, os exageros e as lorotas contadas por alguns dos seus entrevistados, assim como as análises furadas, feitas no calor da hora, por jornalistas mal-humorados.

Evandro Mesquita é a estrela maior de "As Aventuras da Blitz", mas Rodrigo reserva linhas muito engraçadas para Lobão e outros músicos que viveram os primórdios da banda.

Muito coloquial, repleto de gírias e observações sagazes, o texto de Rodrigo parece buscar algo que ele enxerga na trupe que formou a banda, "um jeito Blitz de ser".

Um jeito que ele, carioca, nascido na Tijuca, torcedor rubro-negro do Zico Futebol Clube, levou para São Paulo, onde atuou em diferentes emissoras de TV. Caloroso, simpático, gentil, deixava os seus entrevistados com a sensação de que estavam em casa.

Antes de enveredar pelo jornalismo esportivo, trabalhou em dois momentos na TV Cultura, no "Vitrine", uma "revista eletrônica" que tratava de variedades, cultura e mídia. Na sua passagem mais longa pelo canal, entre meados de 2005 e o final de 2010, apesentou o programa com Sabrina Parlatore.

Foi quando o conheci e registrei mentalmente a imagem de Rodrigo que tento passar neste texto. Em junho de 2009, ele sugeriu fazer uma matéria para o programa sobre o livro que eu havia lançado naquele ano, "História do Lance! - Projeto e prática de jornalismo esportivo" (Alameda).

Havia lido o livro com atenção, tinha várias opiniões sobre o assunto e esbanjou uma simpatia cativante, como se fôssemos amigos de longa data. Escolheu como cenário para a entrevista o bar São Cristóvão, um espaço decorado com fotos e flâmulas de jogadores e times de futebol, na Vila Madalena, em São Paulo.

Depois do livro sobre a Blitz, Rodrigo ainda publicou "Almanaque da Música Pop no Cinema" (2012, editora Lua de Papel). A obra é fruto das pesquisas que fez para um outro trabalho pessoal, como criador e guitarrista da banda Soundtrackers, dedicada a trilhas sonoras de filmes populares.

Também escreveu dois guias de viagem, "London London " (2014) e "Paris, Paris" (2016), ambos para a Faro Editorial, nos quais propõe roteiros para conhecer as cidades utilizando o metrô.

Em janeiro de 2011, estreou como apresentador do "Bate-Bola" (segunda edição) na ESPN Brasil. Ficou alguns anos no canal, saiu, voltou, depois foi para o Esporte Interativo e desde o ano passado estava no SporTV. Tenho a impressão de que, mesmo transitando muito bem pelo entretenimento, o jornalismo esportivo era o seu ambiente preferido.

A sua morte precoce, aos 45 anos, interrompe uma carreira promissora e deixa um vazio grande.