Conheça os bastidores do especial de "Sob Pressão" sobre a covid-19
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São 9h da manhã em ponto quando Andrucha Waddington chega à entrada da cidade cenográfica onde estão sendo gravados dois episódios de "Sob Pressão". Um funcionário mede a sua temperatura: 36,2º. Outro pede que ele coloque a vestimenta de proteção, um vistoso macacão, que todos chamam pelo nome da marca (Tyvek). "Tenho que me vestir de astronauta agora".
O repórter do UOL acompanha a cena remotamente, pelas imagens que Andrucha transmite de seu telefone celular. O diretor pede a um técnico que segure o aparelho e o filme enquanto veste a roupa especial branca. "Isso é todo dia". Os operadores de câmera e outros técnicos, explica, usam um macacão preto, para evitar reflexos.
Já vestido, Andrucha se dá conta de que falta algo essencial. "Cadê minha máscara?" É o décimo dia de gravação. A previsão é que serão 20 dias de trabalho. Normalmente, a gravação de um episódio de "Sob Pressão" leva de seis a sete dias. "Agora, é tudo mais lento".
Os dois episódios especiais, que serão exibidos ainda este ano, se passam em um hospital de campanha, durante a pandemia de coronavírus. O ambiente foi recriado dentro dos Estúdios Globo, perto da área de treinamento. "A gente está funcionando como uma cidade cenográfica".
Na entrada do hospital cenográfico, placas avisam: "Acesso restrito", "Combate à covid", "Um cuidando do outro, nós cuidando de todos", "Logo vamos nos abraçar novamente". O cenário ocupa uma área de 1.200 metros quadrados, com enfermaria, semi-intensivo e CTI. É um hospital com 50 leitos.
A história de "Sob Pressão - Plantão Covid", uma coprodução da Globo com a Conspiração Filmes, vai se passar ao longo de três semanas durante o auge da pandemia. Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano), que terminaram a terceira temporada se mudando para o interior do Brasil, voltam ao Rio atendendo a um apelo de Décio (Bruno Garcia), que está comandando um hospital de campanha.
Todo os atores e integrantes da equipe foram testados para covid antes do início da gravação e têm sido submetidos a testes regulares. Um "chefe de protocolo" acompanha as gravações o tempo todo, advertindo sobre eventuais desrespeitos às normas.
Dois personagens podem apertar as mãos em cena, mas assim que isso ocorre a gravação é interrompida e os atores se higienizam com álcool gel. "Você vai aprendendo o que pode fazer, sem colocar ninguém em risco", conta o diretor.
Andrucha descreve uma cena gravada dias antes. "Evandro e Carolina estão de máscaras e eles precisam se tocar. E eles se tocam através de plástico. Todo mundo chorou. Um toque que não é toque. É um negócio muito angustiante. Porque no meio dessa loucura toda a gente sente falta do toque, do abraço."
Participando das gravações no local há entre 80 e 90 pessoas. No total, incluindo pessoas que trabalham em "home office", o projeto envolve 110 pessoas.
O número de figurantes em cena, cerca de 20, é inferior ao necessário para dar volume e realismo às cenas, mas atende às restrições de segurança. Para compensar, 25 bonecos foram colocados em leitos ao fundo, ajudando a dar a impressão de que o hospital está cheio.
Dois novos personagens foram incorporados ao elenco. O neurocirurgião Mauro (David Junior), "um ator fenomenal", elogia Andrucha, e a enfermeira Marisa (Roberta Rodrigues). "As enfermeiras vão ter uma surpresa excelente. A Roberta Rodrigues vai fazer uma enfermeira com bastante protagonismo no segundo episódio", promete Lucas Paraizo, autor da série.
Os dois episódios têm 42 minutos cada. "Diferentemente da série regular, em que os episódios são autônomos, esses dois são complementares. Juntos, podem ser um filme. É uma possibilidade de acontecer depois se a Globo quiser", diz o diretor.
Mais seguro do que ir no supermercado
Pergunto a Andrucha se os atores manifestaram preocupação de gravar neste momento de pandemia. "Eu tava com medo. Quando vim a primeira vez tive taquicardia. Não conseguia sair do carro", conta. "Aí a gente começou a trabalhar, respeitando os protocolos de segurança, e se deu conta que é mais seguro estar trabalhando aqui do que ir ao supermercado".
Prossegue ele: "Lógico que o pânico existia (antes do início das gravações). Hoje existe atenção e preocupação de ser consciente no trabalho", diz. "Estamos cuidando um do outro. E para cuidar do outro você tem que cuidar de si. É um trabalho muito cuidadoso. Todo mundo vai pra casa preocupado com suas famílias. Tem um sentimento coletivo de cuidado aqui no set que é muito emocionante."
Por que alguém decide ser médico?
O especial vai se diferenciar da série regular em um aspecto essencial. Normalmente, as histórias dos familiares correspondem a 30% de cada episódio, conta Lucas Paraizo. Num hospital de campanha enfrentando o coronavírus isso não é possível. "Sem os familiares, a gente teve que se reinventar. O que a gente fez foi deslocar o foco para os próprios médicos. Eles são mais protagonistas do que eles costumam ser".
Daí o tom do especial: "Essa é também uma maneira de a gente prestar uma homenagem aos profissionais de saúde", diz o roteirista, antes de reconhecer como justa uma crítica feita com certa frequência à série. "E eu até te peço que fale 'profissionais de saúde' e não apenas 'médicos'. Porque isso é uma reclamação que a gente concorda. Não são só os médicos. Tem as enfermeiras, os técnicos, os profissionais da limpeza".
Outra novidade é um grande flashback, como nunca houve em "Sob Pressão", que vai contar uma história envolvendo a mãe de Evandro, Penha (Fabiula Nascimento). "A gente vai contar por que ele decidiu ser médico. Como é um episódio voltado para os médicos, nossa homenagem engloba uma metáfora, através do personagem do Evandro, sobre como alguém decide ser médico. O que existe na vida dele que determina essa vocação. É um diferencial", diz Paraizo.
A decisão de fazer este flashback está relacionada a um acontecimento que chegou a preocupar a equipe de "Sob Pressão". O cirurgião Marcio Maranhão, consultor da série, contraiu a covid-19 enquanto trabalhava num hospital de campanha no Rio.
"Fiquei 14 dias doente, sendo dez dias não gravemente doente", conta Maranhão. "Eu tive 25% de comprometimento pulmonar. Tive cansaço, tosse, febre, fadiga, febre, fiquei acamado sem conseguir sair da cama. E senti o vírus dentro de mim."
"Dessa experiência do Márcio nasceu a vontade de a gente mostrar por que uma pessoa decide arriscar a sua vida por uma outra pessoa que não conhece", diz Paraizo. "Talvez tenha sido a minha grande inspiração. Daí veio a história do flashback, a gente volta 20 anos no tempo, para contar por que o Evandro decidiu ser médico. Isso me impressiona. Qual é o chip que o cara tem que ter para que arrisque a sua vida? É sobre isso que a gente está falando nestes dois especiais."
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