Topo

Mauricio Stycer

Saída de Glória e Tarcísio choca porque Globo tem milhões de gerentes de RH

Glória Menezes e Tarcísio Meira - Reprodução/Instagram
Glória Menezes e Tarcísio Meira Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

11/09/2020 11h48

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A Globo anunciou nesta sexta-feira que, após 53 anos de vínculo, não renovou o contrato de Gloria Menezes e Tarcísio Meira. É um choque, claro. E a reação, ao menos nas redes sociais, é péssima.

"Ingratidão". "Desrespeito". "Deslealdade". "Fim dos tempos". "Globo está falida mesmo". E por aí vai.

A nota oficial da emissora repete os termos usados este ano em outros avisos do gênero, divulgados na não renovação dos contratos de Renato Aragão, Miguel Falabella e tantos mais: elogios aos talentos, lembrando que as portas seguem abertas, e explicação sobre a nova gestão de negócios da empresa:

"Tarcísio e Glória, com quem tivemos uma longa parceria de sucesso, têm abertas as portas para projetos em nossas múltiplas plataformas. Nos últimos anos, temos tomado uma série de iniciativas para preparar a empresa para os desafios do futuro. Com isso, temos evoluído nos nossos modelos de gestão, de criação, de produção e de desenvolvimento de negócios. Em sintonia com as transformações do mercado, a Globo vem adotando novas dinâmicas com seus talentos".

É natural que a empresa, precisando enxugar custos e buscando uma racionalização das formas de produção, não queira mais manter dezenas de talentos artísticos contratados desta forma. E é natural que essa "nova dinâmica" atinja os mais velhos, os que produzem menos e o que ganhem mais.

"Somos 100 milhões de uns", diz a Globo em uma de suas campanhas mais recentes, na qual festeja o seu enorme alcance.

Pois é. O problema é que esses 100 milhões são todos um pouco gerentes de recursos humanos da Globo, e a culpa não é deles, mas da empresa. Ela acostumou o espectador a acreditar nisso.

E a Globo sempre cultivou a ideia de que era uma espécie de "grande mãe" dos seus artistas. Tornou-se um sinal de força e poder da empresa. Contratados fixos, ganhando mesmo sem trabalhar, num modelo que estúdios de Hollywood adotaram no passado, figuras como Tarcísio e Gloria eram muito mais do que funcionários, eram a cara da Globo.

As reações mostram que o público gostaria de ser consultado pela Globo antes de a empresa tomar decisões como esta. Entendo perfeitamente. Mas, infelizmente, isso não é possível.

O que poderia ser feito? Talvez a empresa pudesse falar aberta e diretamente com o público sobre o assunto. Um caminho seria escalar alguém que a represente para explicar os novos tempos publicamente aos seus milhões de gerentes de RH.