Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Globo dá aula importante sobre racismo no BBB; pena que demorou três dias
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Por onze minutos nesta terça-feira (06), Tiago Leifert procurou explicar a Rodolffo e a milhões de brasileiros por que um comentário jocoso sobre o cabelo de João tem o impacto de uma ofensa muito grave.
"De homem branco para homem branco", Leifert disse a Rodolffo e a todos que o ouviam pela televisão que o cabelo black power de João "não é um penteado, é mais que um penteado, é um símbolo de luta, de resistência. Foi o que os pretos americanos usaram como símbolo antirracista".
De forma muito didática, o apresentador lembrou a luta dos negros americanos, explicou qual é o simbolismo do cabelo de João, mencionou Babu Santana para dizer que há diferentes formas de enfrentar o preconceito e cobrou, dos brancos: "Precisamos nos informar. Bora ver filme, ver filme do Spike Lee, 'Infiltrado na Klan', filme maravilhoso. Bora ver vídeos no YouTube, pesquisar. Eles não querem mais ensinar, eles estão de saco cheio de ensinar".
Veja aqui o discurso de Leifert na íntegra.
E, dirigindo-se diretamente a Rodolffo, falou: "Eu não vejo maldade no que você fez e ao mesmo tempo legitimo a dor do João. Porque tem milhares de meninos e meninas pretos e pretas que sentem a dor que o João sentiu. E a dor que o João sentiu não discerne entre um comentário ingênuo e um comentário maldoso [...] O sem querer e o de propósito doem do mesmo jeito."
Foi uma aula importante, pelo teor e pelo alcance. Mas veio com atraso. Alguns dirão com um atraso de séculos. Vou me limitar a falar do "BBB 21". A Globo podia ter tratado deste assunto no sábado (03), no domingo (04) e na segunda (05).
A fala de Rodolffo ocorreu no sábado de tarde. À noite, após mostrar brevemente a cena, Leifert disse que aquele assunto ainda poderia render. No show de Ludmilla, mais tarde, ela falou: "A próxima música que vou cantar agora fala sobre uma coisa que o mundo está precisando, que é respeito. Respeita o nosso funk, respeita a nossa cor, respeita o nosso cabelo. Respeita, caral**!"
Havia motivo de sobra para tratar da questão no domingo. Mas nada foi dito. Nem mesmo a fala de Ludmilla, exibida nos últimos 15 segundos do programa de sábado, foi lembrada. E na segunda, antes do jogo da discórdia, mais uma vez a direção do BBB não fez nada. E viu, espantada, o discurso comovente e histórico de João, ao vivo, no jogo da discórdia.
A enorme repercussão ainda na madrugada e ao longo de toda terça-feira obrigou a Globo a tomar uma atitude. Foi o que vimos durante o programa, antes da eliminação de Rodolffo.
Ao final, Leifert deu uma dica do que estava vislumbrando: "Que oportunidade nós estamos tendo de não deixar que isso aconteça no 'BBB 22'. Tá bom, já. Já deu. Bora pra frente". E completou: "E não é tacar fogo no Rodolffo e nem dizer que a dor do João não existe. É um terceiro caminho, que é o que a gente está propondo aqui. A gente parar, botar a mãozinha na consciência e pensar. Aprender."
Não é a primeira vez que racismo é pauta no Big Brother Brasil. O documentário "BBB: Casos de Polícia", produzido pelo UOL, mostra outros casos dentro programa, como a discussão na qual Marcela Mama, do BBB 4, faz chacota com o cabelo de Solange. O vídeo também relembra a trajetória de Paula Sperling, do BBB 19, que mesmo acusada de intolerância religiosa ganhou a edição. Assista:
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