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Mauricio Stycer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Após reclamar do governo, Record ameniza o tom e relata ação de ministro

Christina Lemos e Luiz Fara Monteiro no Jornal da Record  - Reprodução / Internet
Christina Lemos e Luiz Fara Monteiro no Jornal da Record Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

17/05/2021 22h12

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Três dias depois de o "Jornal da Record" criticar o governo Bolsonaro por "omissão" no caso da expulsão de integrantes da Igreja Universal de Angola, o telejornal amenizou o tom e registrou que o ministro das Relações Exteriores recebeu deputados da Frente Parlamentar Evangélica nesta segunda-feira (17).

A pauta do encontro com o ministro Carlos França foi a expulsão "de maneira arbitrária", segundo a Record, dos 17 membros da Igreja Universal. Segundo a reportagem de Clébio Cavagnolle, "os deputados foram ao Itamaraty pedir providências sobre o caso". Ainda segundo o telejornal, o ministro "afirmou ter passado o caso ao presidente Jair Bolsonaro".

Segundo o relato do deputado Milton Vieira (Republicanos-SP), "o presidente autorizou que ele tomasse à frente, de se criar uma comissão para ir a Angola, pra poder cuidar dessa questão, embora já houve outras comissões que foram, mas não tivemos resultado."

Ainda segundo Vieira, Bolsonaro vai telefonar para o presidente de Angola "e pedir que um grupo seja atendido lá, com algum representante da igreja aqui do Brasil, junto com o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP)".

Na sexta-feira (14), o apresentador Luiz Fara disse: "O Ministério das Relações Exteriores, que deveria proteger os brasileiros em Angola, falhou na missão. E o governo brasileiro também foi omisso, e não atuou de forma ativa para evitar a deportação dos missionários".

Já o bispo Renato Cardoso, responsável pela Igreja Universal no Brasil e genro de Edir Macedo, disse na sexta: "[O governo] já deveria estar fazendo cumprir os seus tratados internacionais com a Angola. Esse é o protesto, especialmente do povo cristão, do povo católico, do povo evangélico, que apoiou esse governo, faz parte da base do governo. Mas, agora recebe em troca uma omissão. É muito triste e decepcionante para o povo cristão no Brasil".

Histórico da crise

A expulsão dos brasileiros é parte de mais um capítulo do embate entre a direção brasileira da Universal (fundada e liderada pelo bispo Edir Macedo), e bispos e pastores angolanos que se rebelaram, desde o final de 2019, passando a contestar o comando geral da igreja.

A maioria dos religiosos angolanos da Universal decidiu romper definitivamente com a direção brasileira. Em junho do ano passado, o grupo assumiu o controle da quase totalidade dos 400 templos da igreja no país.

Na Justiça, os novos líderes da Universal acusaram a direção brasileira da igreja de vários crimes, entre eles racismo, fraudes, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, expatriação de capitais e imposição de vasectomia aos pastores.

Na disputa com os angolanos, Edir Macedo buscou até a ajuda de Jair Bolsonaro. Pediu ao presidente da República para tentar interceder junto às autoridades de Angola. Bolsonaro enviou uma carta ao colega João Lourenço reivindicando um "tratamento adequado" aos brasileiros e à Universal. Mas não adiantou. As decisões do governo de Angola têm sido sempre favoráveis aos líderes locais.

A Universal se diz vítima de "um golpe religioso", e acusa os novos líderes angolanos de serem "ex-pastores e bispos dissidentes afastados por envolvimento em denúncias e irregularidades", como "roubo, extorsão, adultério e até atentado contra menor de idade". Para a direção brasileira, também estariam por trás desse movimento pessoas com supostos "interesses financeiros, religiosos e até políticos"

A Record teve suas atividades suspensas em Angola no dia 19 de abril, e a razão apontada foi o fato de a emissora ser dirigida no país por um estrangeiro, quando a lei local exige que a função seja exercida por um angolano.